sábado, 16 de outubro de 2010

ESTADOS ALTERADOS DA MENTE



Acho que muita gente deve viver mais de uma vida. Não sei quão nocivo isso seja pra mente de alguém, nem se essas pessoas, como eu, admitem que não são o mesmo tipo de pessoas em todos os lugares. Mas falando por mim, não é nada, nada agradável.

Claro que ninguém gosta de admitir isso, mas a verdade é que nossa sociedade nos obriga a fazer isso. Há algumas semanas quando essa coisa da vida dupla começou a me incomodar de verdade eu fui a uma psicóloga. Disse a ela que me sentia dividido por que o trabalho que faço hoje não é o trabalho que quero fazer por toda a vida e que me dividir entre esse trabalho e a faculdade, ou seja, uma coisa que me machuca e outra que me agrada completamente, estava me deixando meio psico.

Eu sei que ela tinha a melhor das intenções, mas ela me disse tudo o que eu não queria ouvir. Ela veio com aquele papo de que os tempos mudaram, que o ser humano tem de se adaptar a essas mudanças rápidas e ser muito flexível. Como eu estava me sentindo muito mal, não consegui me expressar direito e acho que ela se sentiu um pouco ofendida com minha argumentação. Perguntei se essa “flexibilidade” não poderia ser confundida com hipocrisia. Afirmei categoricamente que se não, com certeza isso faria no mínimo um enorme estrago na alma. Quero dizer, tendo de mudar a cada dia para me adaptar às mudanças do ambiente, não irei c acordar uma bela manhã e não saber mais quem eu sou?

Ela, mesmo desconcertada pelo meu ataque disse que era perfeitamente possível ser esse camaleão sem se perder de si mesmo. Nós sabemos que isso não é verdade. Pelo menos não pra todas as pessoas. Não pra mim.

Não consigo dissociar essa visão de múltiplas vidas da interpretação que Stephen King fez do mito do Lobisomem em seu livro “Dança Macabra” (que não é um romance, mas uma análise do fenômeno do terror na cultura pop do século XX). Lá ele diz que o lobisomem representa o lado selvagem do homem normal e virtuoso. Esse lado reprimido nos calabouços obscuros da mente acaba um dia soltando suas amarras e vencendo a virtude, libertando-se faminto e furioso em busca de carne e vingança. Por isso não me lembro de nenhum momento de minha vida que tivesse sido tão “Jekill and Hyde” quanto este. E fico pensando no motivo pelo qual as pessoas (inclusive eu!) simplesmente aceitam essa condição.

Gostaria de acreditar que a boa psicóloga que visitei estivesse certa e, mesmo que eu fosse obrigado a ser uma pessoa durante o dia e outra de noite, pudesse sempre reconhecer meu verdadeiro eu. Talvez eu me sentisse mais seguro e confortável se eu tivesse certeza de que ela soubesse qual de seus inúmeros “eus” estava me atendendo naquele dia.



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

V ou Alex?



O cara da foto acima foi magistral (embora mal compreendido em sua época) em sua exposição baseada no livro de Anthony Burgess. O caminho aqui é meio diferente, mas mexe com os mesmos princípios que regem o comportamento humano. Sem firulas, isto é sobre a violência. Um dia desses eu vi na tv algo sobre justiceiros atuando no Bom Jardim. Claro que não é justificável um cara se armar e passar fogo nos "bandidos" (seja lá o que isto signifique nos dias de hoje). Mas é completamente compreensível...

Tanto em Laranja Mecânica como em V de Vingança ( uma das graphic novels mais simples e incrivelmente significativas desde as inscrições rupestres) o foco é o mesmo, mas a abordagem do personagem principal é outra. Alex quer ver o caos crescer para descobrir o novo. "O que há depois do Big Bang?". Mas V já sabe o que existe depois. Ele quer a ordem depois do caos, embora seja o caos algo necessário. Para ele está tudo calculado.

Acredito que o território aqui seja o mais propício para os dois futuros se concretizarem. O que há de diferente? Nem o fato de desligarmos a tv após o jantar e fingirmos que nada aconteceu é diferente. Um dia o negócio chega na nossa porta. Pode ser na forma de um enorme pênis de porcelana esmagando seu crânio ou o governo restringindo nossas expressões justo no momento em que precisamos gritar por mais tudo, contratando os donos do caos ("una-se a eles") para assegurar nosso bem estar, maquiado em milagre governamental.

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Quando finalmente alguém descobrir onde estamos no tempo, o primeiro que porá a máscara no rosta pensará como V ou como Alex?