sábado, 22 de outubro de 2011

QUEM TEM MEDO DO PROIBIDÃO?



Sexta-feira, 14 de outubro de 2011.

Estou voltando da faculdade. Passa das três da tarde. Estou nas proximidades do Colégio Liceu do Ceará. Ouço o som alto de um carro. É um daqueles completos imbecis sem nenhuma educação que querem compensar sua limitação mental e sua frustração por não aceitar a si mesmo e suas fantasias homoeróticas e precisam chamar atenção de qualquer jeito para sublimar o conflito interno. Um homem adulto. O som vai se tornando ensurdecedor à medida que se aproxima. Quando finalmente consigo entender o que a silvícola está dizendo na letra, é com isto que me deparo:

“Comece a me chupar/Metendo pra lá e pra cá, cá, cá, cá, cá...”

Ou algo assim.

Quarta-feira, 19 de outubro de 2011.

Estou em uma dessas topics metropolitanas indo para o meu campo de estágio em Caucaia. Sete da manhã. A topic não está lotada, mas há muita gente indo para o trabalho. Um idoso de cabelo lambido e rosto sereno na poltrona próxima à porta, uma mulher grávida, uma senhora de meia idade com a maior cara de professora...E um rapaz de mais ou menos dezesseis anos acompanhado de um colega um pouco mais velho, ambos com farda de um colégio que não pude identificar. Um dos rapazes estava com um celular pendurado no pescoço ouvindo uma música em volume além do bom senso. Muita batida, cornetinhas repetitivas e uma voz feminina começa um verso fragmentado:

“Hoje eu to cheia de tesão/Eu quero te excitar/Minha calcinha tá no cu/Raspei a xereca pra você chupar/ chupar, chupar, vem aqui me chupar”

Ou algo assim

Sábado, 21 de outubro de 2011.

Oito vinte da noite. Caminho com minha esposa pela rua onde moro. Estamos saindo à procura de uma casa a fim de nos mudarmos, pois não temos um raio edestuidor e nossos vizinhos não são do tipo: “Podemos nos divertir, mas vamos tentar não incomodar as pessoas que gostariam de descansar de uma semana árdua acordando cedo e dormindo tarde”.

Em nossa direção vemos um grupo de garotas. A mais velha deve ter no máximo catorze anos. Percebemos logo que uma ou mais delas estavam compartilhando do mesmo hábito do rapaz citado acima, carregando um celular. Já imagino o que vou ouvir em instantes e o que ouço é isso:

“Que piroca boa/Bota até o ovo-ovo/Bota até o ovo”

Ou algo assim.

Sou completamente contra a censura, de qualquer tipo. Apesar do meu tremendo mal estar com o que tenho testemunhado em situações como essas que eu narrei, pois são somente episódios mais recentes de um fenômeno que vem acontecendo há MUITO tempo (e só falei daqueles ligados ao gosto musical, a coisa não se restringe apenas a esse aspecto...), não condeno essas pessoas por seus gostos e atitudes.

Afinal, quem sou eu? Eu sou um professor, estudante universitário, homem casado que trabalha e sofre como todo mundo, mas que tem seus momentos de olhar revista de mulher pelada, ver uns filmes muito escrotos, com sexo, violência e terror e coisas do tipo. O que me coloca exatamente e meu lugar, aquele em que não tenho o direito de dizer pra ninguém o que é certo ou errado.

No entanto, ficaria muito, mas muito, mas muito, mas muito feliz mesmo se alguém, além da minha esposa, me dissesse que não gosta nada disso que está acontecendo com as pessoas hoje em dia, isso que as motiva a desprezar a ideia de bom senso (pelo menos a ideia que eu tinha de bom senso, que pode não ser a verdadeira, mas que existia antes e está se desintegrando rapidamente). Porque estou vendo tudo como um daqueles filmes de terror antigos como “Vampiros de Almas”, em que um mal escandaloso vai tomando conta das pessoas e fingimos que tudo é normal até o momento em que não podemos controlar toda o tsunami de merda que está em vias de nos afogar.

E sabe o que mais? Apesar de tudo, o funk não tem nada a ver com isso.


P.S.: Acabei de achar o artigo de uma pessoa muito mais esclarecida que eu escreveu a revista AFRICAS tratando o assunto de uma maneira menos aterrorizada. Acho que vale a pena ler. Clique aqui.