sexta-feira, 5 de setembro de 2014

DELICADA FLOR DE SONHO

Art by Sophie Blackall


Os sonhos de outras pessoas também são assim? Cenários misturados, pessoas desencontradas sob um céu positivamente escuro...



Ele corre contra o tempo. As ansiedades do mundo desperto geram cenas frenéticas, mas a pressa não é para os outros. É para si. Terminou um dia de trabalho e o coração bate forte. Alguém espera. Um passo e já está lá. É um cinema. Gigantesco. Muitas pessoas. Ele entra na sala, o filme já terminou. Não importa, foi o que combinaram. Ela estaria lá, à espera.
Apenas pôs os pés além da cortina e as luzes se acenderam. Muita gente andando, falando, saindo.
Seu olhar, do alto do auditório procura um rosto que deve brilhar entre mil. O coração bate forte. É medo de não encontra-la. Ou de encontra-la. Namoram há poucos dias e tudo é tão recente, repentino e delicado...
O sentimento que ele deseja no olhar dela é uma florzinha, das mais pequeninas e mimosas. Daquelas que a gente torce pra nunca murchar. Rega, beija e faz carinho. Aprende até a rezar. Tão frágil, raro. Perfumado. Ainda está lá? Terei de pedir um beijo ou vou ganha-lo? Mereço?
A gente dali foi rareando. O olhar dele esquadrinhava todo o lugar. Parou nela de pé, lá embaixo. Os olhos também procuravam. Por ele. Ai, coração pequeno! Quase para. Está lá. A florzinha viva. Muito mais que viva. Mágica e linda. Ela sobe o auditório com um sorriso matador. Não pare, coração. Precisa acontecer um beijo. Está aqui ela, chegou bem perto. Os braços o envolveram. Os lábios o tocaram. Chame o Guiness: novo recorde mundial de felicidade.
Meninos sonham assim.
A noite acaba, hora de acordar. A florzinha, o sentimento, vira segredo de alma. Paixão não o descreve. Amor é grande demais. Deixa sem nome. Sente só, que era mesmo florzinha que morreu. Ele a põe amassadinha dentro das páginas de um livro. Um dia vai contar pra alguém que sentiu tudo de novo.


Nas noites por vir, abre o livro. O coração se permite querer que em algum lugar, uma moça tenha sonhado com alguém depois de um filme, aparecendo na multidão a se perguntar: “Ainda está lá?”.