terça-feira, 31 de janeiro de 2012

COLECIONE PONTOS E SEJA UM DE NÓS!!!!


Agora temos de ter cuidado com o que colocamos na internet. Se não é bem capaz de que nossos empregadores achem que não somos adequados ao cargo que pretendemos. Não importa o quanto tenhamos estudado durante nossa vida, que tenhamos suportado todos aqueles anos chatos de escola, tirando notas boas a muito custo, deixando de lado uma vida plena para adequar-se às demandas do mercado. Se você diz palavrões ou coisa do tipo em suas redes sociais, está em completa desvantagem, amigo.

Não, não. Isso não é por um apelo desesperado da sociedade pelo bom senso, coisa difícil nestes tempos em que ele é confundido com o tão falado “politicamente correto”. Aliás, “politicamente correto” é um termo cuja definição nunca consegui entender direito. Por um lado entendo que muita gente, as mais questionadoras pelo menos, ataquem esse tipo de postura por encontrar nela muito do verniz hipócrita e arcaico que regeu nossa sociedade até bem pouco tempo atrás, quando trocamos inimigos declarados e facilmente reconhecíveis por outros muito mais sutis e perigosos. Por outro, fico pensando: “Poxa, mas o correto não é uma coisa boa? O problema deve estar no ‘politicamente’ então...”. Deixa pra lá.rsrsrsrs.

Apenas tome cuidado. Se você quer realmente ter um emprego e não tem peixada que facilite as coisas pra você, pare de postar em seu tumblr essas fotinhos sacanas, pare de ser tão polêmico no facebook e, bem, se você é um nerd que gosta de filmes de terror e rock, principalmente os seguimentos mais obscuros desse estilo, pode esquecer. Apague seus perfis e crie novos postando fotos de crianças morrendo na África com aqueles apelos emocionados à consciência, quem sabe animais escaldados pelos donos num protesto muito bem intencionado contra a violência para com os animais. Ah, mensagens religiosas podem ajudar, mas tente ser o mais neutro possível, pois se seu futuro empregador tiver uma religião diferente da sua, pode ser um ponto negativo.

Faça isso e você poderá então fazer parte do seleto grupo de pessoas bem sucedidas, com considerável poder de compra, que um dia poderão figurar em alguma matéria de telejornal sobre decoração da casa, ou sobre o que colocar na mala em sua viagem de carnaval ou, quem sabe, sobre como ensinar seu filho a gastar o dinheiro da mesada semanal. Caso contrário, em alguns anos, pode acabar figurando mesmo em alguma reportagem daqueles noticiários policiais, inteligentemente ignorados pelo pessoal que decora bem sua sala de estar, escolhe bem o que leva pra viagem e administra bem a mesada dos filhos.



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

AS AVENTURAS DO CAPITÃO SUPERIOR ou Como Notei que Sou o Fodão...


Acho que não preciso, por motivos óbvios, preocupar-me em assumir a responsabilidade pelo que este blog há de se transformar a partir de hoje. Não tive nenhuma epifania, aliás. Pelo menos não é assim que quero chamar a sensação que conheci hoje. Nada de muito extraordinário aconteceu. Eu acordei cedo (para os padrões de férias), tomei café com minha esposa e minha filha que ainda cresce obstinadamente (graças a Deus!) dentro de sua barrigona. Fomos à loja de informática trocar os fones defeituosos, passamos no Centro, compramos um monte de roupinhas, consegui achar um exemplar do livro Crash! Do J. G. Ballard por apenas um real (feito que eu adoraria repetir mais vezes, embora dependa muito da sorte), almoçamos no SESC, voltamos pra casa a pé, cansados e satisfeitos.

Em casa, assisti a um filme baseado num dos primeiros contos do Stephen King, o qual li há muito tempo e é um dos meus favoritos. O filme é legal, mas peca por adicionar muita coisa a uma história que era boa justamente por ser simples. Depois peguei meu volume de contos reunidos do Rubem Fonseca e fui ao alergologista. Na volta, a parada de ônibus estava lotada e resolvi esperar ali em pé, lendo o livro, até que o número de pessoas diminuísse. Isso durou mais ou menos meia hora.

Novamente em casa, pus o filme que baixei à tarde, antes de sair para o médico. O documentário de 1994 do Terry Zwigoff sobre o quadrinista Robert Crumb. O filme realmente foi um soco no peito. Conheço um bocado de quadrinhos, mas me senti um micróbio por conhecer tão pouco de Crumb. Mas foi incrível perceber a curiosa e inequívoca influência do sofrimento sobre a obra de um gênio. Mesmo que, como Crumb, esse sofrimento seja sublimado a ponto de tornar-se quase um divertimento. Fiquei ali, mergulhado naquele universo distorcido e ao mesmo tempo tão reconhecível dos sonhos esmagados e do nadar contra a maré. Na verdade, isso aconteceu agora há pouco. Acabei de desligar o DVD.

Mas isso ainda não foi o que me fez vir aqui.

E o que foi? A resposta é nebulosa. É algo muito pesado, difícil de descrever, mas que, de qualquer forma, já está mais do que descrito em cada linha de tudo o que já escrevi em toda a minha vida (o que foi infinitamente menos do que eu gostaria, e duas vezes infinitamente menos do que seria necessário para me tornar um escritor ou pelo menos o escritor que eu gostaria de ser...).

Enquanto assistia Crumb ouvia a TV da minha mãe na cozinha passando a droga do Big Brother. Isso não me fez ter mais raiva do que eu sempre tive de coisas como o Big Brother ou qualquer outro lixo desses que nos fazem engolir. Na verdade, não senti nem a raiva que sinto habitualmente. Apenas ignorei. Apenas me senti superior por não estar assistindo Big brother e sim outra coisa. E aí, só aí me toquei que eu sempre me senti assim. Bem, na verdade, eu já havia me tocado, mas quando você cai na real quanto a coisas do tipo, entre percebê-la e admiti-la existe um enorme hiato.

Não sei por que motivo eu me sinto tão superior por gostar das coisas que eu gosto em vez de engolir com todo mundo as porcarias que servem. Só nesse texto eu citei um monte delas. E realmente acho que, em certo nível, elas me preenchem, ensinam, dão bagagem para pensar e questionar a realidade ao meu redor com maior clareza, apesar de não me revelarem paisagens mais confortáveis. È algo que não deixa de ser resultado de escolhas conscientes, do tipo: “Ler isto é bom para mim por causa disso... assistir isso é bom pra mim por causa disso... ouvir isso é bom pra mim por causa disso...” E pó aí vai.

Se fosse só assim, acho que ser quem sou e gostar do que gosto, consumir o tipo de Cultura ou “cultura” (porque existe um enorme abismo entre as duas expressões e eu gosto muito de coisas dentro de cada uma) que eu consumo de fato me faria melhor do que quem gosta de Big Brother, Michel Teló, ou esses execráveis funks dos quais falei meses atrás no último post.

Mas quer saber? Boa parte do que me faz gostar do que gosto não é nem um pouco consciente. E é isso o que me derruba. Eu amo ler mais do que qualquer coisa. Eu amo quadrinhos, rock´n´roll, filmes de terror e cinema em geral e amo escrever, não importa o quê. E eu não escolhi isso. A parte consciente de tudo é decorrente das justificativas que encontrei ou que inventei para gostar dessas coisas e não de outras. E é por causa disso que não sou em nada melhor do que idiotas que se empanturram de novelas, música ruim, comerciais de TV,filmes vazios e que não abrem uma porra dum livro pra ler algo que preste e ainda enchem a boca pra dizer que isso é besteira ou que não precisam fazê-lo.

E o lance todo é que, mesmo sabendo que sou tão idiota quanto qualquer um desses, eu sei que cheguei a tal conclusão através de um sofisma para atenuar minha enorme, gigantesca, titânica incapacidade de acreditar nessa porra toda...