quarta-feira, 25 de maio de 2011

A REVOLUÇÃO NÃO SERÁ TELVISIONADA




Acho que esse é o caso mais próximo de que me lembro em que a internet foi responsável por trazer à tona algo de realmente relevante. Não é porque sou professor, mas por estar cheio de ligar a TV no domingo e ver que a “menina arroto” é sensação, com milhares de acessos no Youtube, ou que o bebezinho que solta um pum com o som do nome da mãe é o novo fenômeno.

Mas essa realmente me impressionou. Semana passada eu estava vasculhando o blog do meu herói internético, Eudes Honorato, quando me deparei com o vídeo da professora Amanda Gurgel e o pedido do mesmo Eudes para que levassem a diante, que espalhassem o vídeo. Cara, eu não duvido nada que tenha sido por causa dele que a coisa ganhou tamanha notoriedade. Eu realmente não imaginava que isso aconteceria.

Enfim, está na boca das pessoas, foi parar no Faustão, a mulher está aqui em Fortaleza e participou de manifestação na Câmara “ninho-de-ratos” dos Deputados (será que é crime me referir à Câmara assim?), os caras fugiram com medo e os professores ainda fugiram dos manifestantes, claro, eles não podem com quem tem argumentos e usa a voz com sagacidade.



Sei tanto sobre política quanto um pedreiro sobre cirurgia torácica, embora eu reconheça a importância de se conhecer política. Só não fui, como muitos, e talvez como você que me lê agora, treinado para entendê-la e associá-la de imediato com a situação a que estamos condicionados. No entanto, não acredito que a greve seja uma forma efetiva de protesto. Acho que é um meio antiquado de chamar atenção e que é muito vulnerável a malabarismos legislativos. Além do mais, se profissionais como professores entram em greve, acredito que na mente dos políticos calhordas deve passar o pensamento de que só quem se ferra mesmo é a população, e que isso não é problema, pois eles ferram com a população todo dia mesmo. E se as crianças das escolas municipais ficam sem aula por semanas, a última coisa que o povo vai fazer é se organizar e reivindicar o direito delas à educação. Primeiro porque o povo não sabe se organizar. Segundo porque o povo está preso em um ciclo que envolve trabalho contínuo, pesado e mal remunerado atrelado ao tempo que se perde se deslocando de casa para esse trabalho dentro dos coletivos de péssima qualidade enfrentando o trânsito caótico da cidade junto com o cansaço e despreparo mental que leva à alienação alimentada por futebol, novela, Big Brother e o escambal a quatro.

No fim das contas, os professores protestam, protestam, protestam. Exigem direitos que poderiam ser concedidos facilmente, pois recursos existem para tal, mas os deputados e as outras autoridades políticas , como estão na zona de conforto assegurada pelas condições acima citadas, vão esperar até vencerem pelo cansaço os trabalhadores, já desiludidos, com uma contraproposta vergonhosa.

Não, não é novela da Globo, mas você já viu essa história se repetindo e, como nas novelas da Globo, por mais que você já saque o final no primeiro capítulo, a história se repetirá ainda muuuuuitas vezes. E no fim não veremos casamento, sorrisos e o vilão sendo preso, ridicularizado ou morto. Mas com os hábitos lúdicos da nossa prefeita, quem sabe tenha até uma festa por aí...

Acho que se os trabalhadores (ou quem quer que queira se manifestar contra algo que considera errado)quiserem mesmo ver a mudança acontecer devem pensar numa forma mais inteligente de protesto. Chocar só serve pra chamar atenção. E só. Não muda nada. Então ficar pelado, atear fogo no próprio corpo (se bem que no Egito funcionou...) essas coisas, não iriam funcionar. Tem realmente que incomodar os caras do poder, tem que tirar o sono deles. E precisa ser pacífico. Parar de trabalhar não é a solução, pois se eles realmente se importassem em fazer com que a educação ou a saúde ou a segurança funcionassem, se isso representasse algo para eles, não haveria motivo para protestos. Eles estão cagando pra gente.

Sei que parece loucura, mas a única forma de fazer com que eles passem a se preocupar com o que acontece conosco é ignorando-os completamente. Não da forma como já estamos fazendo, deixando com que eles trabalhem a favor próprio com nossos recursos, sugando do nosso trabalho. Mas desobedecendo.

Aposto que se você deve estar puto por ter lido até aqui pra terminar numa viajem minha. Mas eu sei que se você pensar um pouco sobre o significado ideal da política e o significado que ela tem hoje para as relações socioculturais vai ver que, de repente, isso pode fazer algum sentido. É só observar que uma singela professora dos confins do Rio Grande do Norte, com um pequeno, ousado e muito articulado discurso foi capaz de calar a boca de uma dúzia de manipuladores e fez muita gente parar um instantinho pra pensar. E não importa se ela é filiada a qualquer que seja o partido ou vertente ideológica. A verdade que ela disse vale pra todos, consientes ou não de sua condição. A palavra tem enorme poder transformador e um povo que pensa, que sabe usá-la, dificilmente se deixaria dominar.