terça-feira, 27 de agosto de 2013

FIM DE UNS DIAS...



Quando há um incêndio na floresta, muitos animais fogem. Outros permanecem e ajudam a apagar fazendo o melhor que podem. Boa parte deles morre nisso.
Mas há um tipo de criatura que simplesmente vai para o topo da colina e assiste tudo. Aparentemente calmo.  Como se não se importasse com o destino do lugar. Como se não estivesse fazendo nada...
O movimento de suas mãos é sutil. Não dá pra ver em meio à correria e desespero. Mas os movimentos mais suaves geram grandes ventos. O velho bater de asas da borboleta. Cada um de nós deve dar uma pequena contribuição para o caos, pois ele é o pai das mudanças.
Olhe com atenção para os insensatos. Eles podem viver sem que se confie neles. Mas você poderá viver sem confiar ao menos um grande desejo a eles? Mesmo vendo reais possibilidades de decepção?
Que bons ventos levem perfumes de calma para sua vida, mas que também levem o fogo transformador. Há um incêndio sobre o qual jogo singelos e cínicos gestos. O brilho e o calor são intensos. Ainda não sei se isso é bom ou ruim, mas sei que é vida. E de qualquer jeito a vida é sempre bela.

Obrigado a todos. Até breve.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

AS PEQUENAS IRONIAS

Art by Stanley Kubrick


Você já passou a gostar de alguém que um dia odiou?
É um grande golpe. Deixa nossa cara no chão.
Mas convenhamos, é muito divertido. Devolve-nos à condição de mortal. Revela um segredinho valioso e o que aparentemente é uma terrível humilhação acaba nos engrandecendo. E tudo o que aconteceu foi que notamos a pequena verdade de que no fundo ninguém é totalmente mau ou bom.
Quase dá para se odiar também. A vida é mesmo uma ironia kubrickiana. Somos a criancinha assistindo o sobe e desce da montanha-russa a se perguntar se vamos aguentar a violência da descida. E é descendo que a gente pensa no que fez.
Posso dizer para vocês que dói. Mas toda dor fica suportável quando a gente sabe seu significado. E ficamos assim, vacinados. Aprendendo que não somos senhores nem do nosso próprio olhar sóbrio.
Quem dera soubéssemos a sagrada arte do “nunca julgar precipitadamente”. Aquela mesma que é irmã do “colocar-se no lugar do outro”. As cicatrizes são necessárias e talvez nossos melhores amigos estejam escondidos entre os inimigos.
Porque os mais formidáveis inimigos são aqueles que carregam pedaços de nós.

Onde eu paro e me viro, saio para outra volta/ Até que eu volte ao fundo e te veja novamente.” – Helter Skelter, Beatles.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

EXCELSIOR...

Art by Andrew Lyman

Olhar ao redor e se perguntar o que é sublime. Onde ele está e com o que se parece. Quantos de nós o procuramos? Quantos de nós o enxergam? Apaixonamo-nos por aqueles que dizem já tê-lo alcançado. Mas quem o fez apenas conta a história de como ele lhes fugiu das mãos.
O sublime engana. É um espectro de cores cujos olhos são incapazes de captar sozinhos. Há algo com sentimento que muitos deixam para trás. Ou fingem não se importar.
É um jeito de dizer o que se sente. Uma forma excêntrica do sol brilhar sobre as cabeças. A ordem dos romances e dos poemas marcando com beleza singular os melhores momentos da vida. É um grito que reverbera contra as paredes do cansaço.
Nós queremos acontecer sublimes nas vidas das pessoas. Isso é vaidade, sim, mas a mais inocente. E eu sei que não procuramos as mesmas coisas para crescermos na graça de uma existência sagrada. Mas o valor de cada gesto, desde o beijo até a mordida, é o mesmo para todos.
Pois eu rogo pelo que vem do alto. Suplico para que você e eu cheguemos às nuvens. Que escrevamos as mais belas cartas. Que digamos coisas cada vez mais brilhantes. Que possamos descobrir nossa arte e viver dela, ou com ela, quem sabe apenas por ela. Cresça e cultive sua essência. E quando eu tiver fome do belo, buscarei as suas mãos e seu olhar. Porque ninguém faz o que você faz. E ninguém vê as coisas como você.

Sele este pacto comigo e iremos viver eternamente.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O SERENO E A TEMPESTADE

Art by Julien Coquentin


Quando ela se aproxima a gente sabe.
Há tempos comecei a pensar num jeito de ficar firme na tempestade. Uma forma engenhosa de não sair voando com o vento e me chocar contra paredes. É o trabalho de uma vida chegar nesse estágio. Um Nirvana dinâmico de invencibilidade.
Cada experiência e sentimento com os quais tenho trombado ao longo desses anos são em dado momento uma bênção, em outro uma maldição. Como ventos e chuva que destroem, mas que limpam o caminho. Há livros, pergaminhos, e por gerações os anciãos disseminam a grande cabala da serenidade, mas parece que isso não é algo que se alcança ou encontra. Quanto mais vivo, mais imagino que é algo que se escolhe.
Na semana que passou, sofri o Apocalipse e germinei alternativas. Algo morreu em mim e alguém morreu lá fora a morte que desenhei. Algumas peças se encaixam de forma tão inusitada que nos fazem parecer ridículos com as mãos na cabeça, buscando soluções complexas quando a única coisa a ser feita é juntá-las, mesmo duvidando da união. Não há nada tão ridículo quanto viver. Nada tão doloroso e mágico a um só tempo.
Vejo algumas pessoas de braços abertos na tempestade, deleitando-se da possibilidade de ser tragado definitivamente. Não consigo entender como elas ousam. Ficar firme é, talvez, impossível. Talvez seja só olhar para o céu revolto e abrir os braços. Vai ver que o céu, como o abismo, nos olha de volta e teme não conseguir nos derrubar. Então se acalma.

No final, é escolha. Mas no começo é coragem.