quarta-feira, 1 de abril de 2015

MIRAGEM ou SENTIMENTO PERDIDO

Foto por Raphael Lucena

Alguém fala ao longe: “É mesmo assim...”. Mexe a cabeça, confirma. “Fica com essas cores com o tempo", diz. "E com essas palavras. Giz de cera e versos de criança. Não tenha medo.”
Não distingo a figura, que parece falar dentro da minha cabeça, nem mesmo sei se ela diz essas coisas do que penso. Se lê mesmo meu pensamento e, caso sim, se realmente pede para que eu continue nessa direção.
Chega um momento em que o amor é essa miragem. A sede e a fome anuviam os sentidos. Correr é inútil, pois o paraíso continua sempre à mesma distância. Se não o encontra onde você está, nunca vai bastar.
Insistir. Resistir. Desistir. Em qual dos três está a coragem verdadeira, a redenção e a catarse? Difícil saber. E caro. A descoberta é a própria ressurreição.
A figura que dança, embaçada no calor da tarde eterna e seca, começa a gesticular. Não se revela. Só se faz entender mais um pouco e minha tradução é falha (ou minha visão se rende aos desejos...).
Ele diz: “Amar é a estrela (de)cifrada. Não é felicidade, momento. É vida inteira e tormento(a). Tudo o que (não) deveria ser e, no fim, mãos dadas”.
A figura some. Há uma pequena poça d’água boa para beber a meus pés. Posso caminhar mais um pouco. Morrer logo adiante? Quem sabe. Desertos são assim: cada passo é uma aposta que jamais se abre mão de fazer.