terça-feira, 13 de outubro de 2009

Times They Are A-changing





Lembro dos anos sessenta quando eu ouvia Buddy Holly desde quando acordava até a hora do almoço. Depois de comer, punha uma camiseta, meus óculos de armação grossa e caminhava um pouco debaixo do sol quente até a banca do Alfredo para trocar figurinhas de alienígenas com ele. Comprava alguns exemplares antigos de gibis do Superman e voltava pra casa. Me trancava no quarto, colocava um pouco de Elvis na vitrola e ia escrever histórias de ficção científica para passar o tempo. À medida que a tarde passava, saia Elvis, entravam Troggs, Beattles, Kinks, Animals. E eu amava Bob Dillan apesar de ser só um cara com um violão e uma voz anasalada, na época muito estranho pra caras como eu. Mas o fato dele falar coisas que eu realmente achava importante me dava a impressão de que pelo menos uma pessoa nesse mundo tava realmente afim de simplificar as coisas pra mim, ao invés do contrário.

De tarde eu tomava um banho, vestia uma calça de brim, uma camisa branca por dentro, meu cinto de fivela dourada, sapatos bem engraxados, colocava meu chapéu preto meio que de lado e ia à praça conversar com outros cavalheiros que, como eu, não viam problema nenhum em tomar uma cervejinha, conversar sobre rock´n´roll, filme de terror e atrizes gostosas como Brigitte Bardot. À noite, sempre tinha festa na casa de alguém. Havia uma loira de nome Glória. Nunca chegamos a ficar juntos, mas sei que ela tinha uma queda por mim, pois sempre estávamos a trocar olhares e ela sempre sorriu pra mim. A possibilidade de dançarmos era o que tornava aquelas noites mágicas. Um dia, consegui chamá-la para uma dança. Ela era daquelas menininhas de beleza inocente que sempre está acompanhada de suas amigas, com seu risinho tímido e meigo, de voz suave e um perfume natural e inebriante que me deixava sonhando por semanas. Eu era um garoto meio desbocado que as mães das meninas detestavam e com quem as proibiam
de falar, mas com quem elas não conseguiam deixar de falar. Daqueles que causam problemas de verdade e acham muito divertido ver o circo pegar fogo. Tudo isso fazia daquele um tempo muito bom. Me lembro de como sempre achava que estava vivendo na época certa, apesar de toda a porcaria pela qual o mundo estava passando. Uma guerra falsa que era uma ameaça verdadeira, os preconceitos e a repressão. De certa forma, até aquela tensão toda era boa. Era bom ser jovem e esperto o bastante para saber e ter consciência de tudo e mesmo assim não ligar pra nada a não ser música, cinema, mulher e confusão. Eu amei minha juventude. Só que há um problema: nada disso aconteceu. Eu não sou esse cara. Nem sei de onde ele saiu. Faz tempo que ele mora em mim, acho que ainda era garoto quando ele surgiu. Tenho uma saudade imensa desse tempo, a ponto de chorar algumas vezes, vendo as fotos de todas as pessoas com quem eu andava, lendo cartas delas, falando com uma ou outra ao telefone sobre aquelas aventuras...mas nada disso existiu. Sinto-me velho como esse cara seria hoje, mas eu não sou ele. Como posso explicar isso? Não há outro jeito senão imaginando que esse rapaz é um eu diferente de uma realidade paralela qualquer, gritando através da sangria cósmica que existem coisas legais para serem vividas, que eu não sou tão velho quanto o mundo e as circunstâncias me fazem acreditar que sou e que eu devia jogar algumas coisas para o alto antes de ser engolido por todo o tempo que não vivi. Quando paro pra pensar nos acontecimentos do mundo vejo que nossa época é bem parecida com aquela. Uma juventude desatenta e inconseqüente, uma ameaça nuclear assombrando os jornais e a esperança invisível de que do nada alguém muito especial apareça para mudar as coisas. Não sei o quão triste me sinto por quase não me lembrar de nada do meu próprio passado e sentir tanta falta da vida desse meu eu alternativo. Acredito que na história jamais houve um tempo em que não se estivesse em crise. A luta pela sobrevivência nos domina, ofusca nossa percepção e liquidifica nossas aspirações e sonhos, tudo é sempre uma névoa de preocupação e o esforço é imenso por construir um amanhã que não deixa de ser incerto. Quanto mais se pensa, menos se entende como a humanidade caminha. Mas as coisas estão mudando. Os tempos estão sempre mudando. O que não muda é o fato de que jamais saberemos no que tudo vai dar, por mais que queiramos ter o controle de tudo. E acho que os momentos do passado que nossos “eus alternativos” mais sentem saudades, nesses tempos obscuros de solidão e loucura, são daquelas noites lindas em que o espírito ficava leve ao som de músicas de amor e se podia muito bem flertar com a Glória. Sem culpa alguma, sem qualquer pudor.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

"Onde as nuvens pairam aos olhos dos poetas..."

(edição que minha esposa Nany me deu-14ªedição, editora Record)

Quando eu tinha treze anos, um dos meus melhores amigos, o professor Rodrigo Marques, me emprestou o primeiro livro que li inteiro na minha vida: "O Pequeno Príncipe". A incrível e emocionante fábula "para adultos" que surpreende e ensina o espírito (sobre ela um dia hei de falar melhor). Eu li com toda a empolgação do mundo aquela história tão amada por todos e que sempre despertara minha curiosidade. Quando devolvi o "Pequeno Principe" para o meu amigo, ele logo jogou em minha mão outro livro que, segundo ele, marcaria minha vida para sempre. Não gostei muito do título de cara e, como toda criança, eu julgava o livro muito pela capa (talvez dado à minha experiência já muito vasta no mundo dos quadrinhos), pois da capa não havia gostado muito também. Peguei o livro só pra não fazer desfeita e joguei na minha mesa de estudo onde ficou pegando poeria por alguns meses.

(versão que eu li aos treze anos-não me lembro a edição)

Um dia, não sei porque, peguei o livro e li o que havia escrito na parte de trás:


"As pessoas que fazem suas próprias regras quando sabem ter razão; as que sentem prazer especial em fazer as coisas bem feitas, mesmo que seja só para elas mesmas; as que sabem que a vida é muito mais do que os olhos podem ver...Todas estarão ao lado de Fernão Capelo Gaivota(...)".

Achei aquilo magnífico. Que tal de Fernão era aquele que buscava exatamente o que eu buscava, que era um lugar no mundo, uma vida mais rica de significado, uma voz prudente e sábia? Foi num feriado de semana Santa em que fiquei sozinho em casa que larguei um pouco os exemplares de Superman e Batman que comprara dias antes e comecei a ler. Mudou tudo mesmo.
Fernão Capelo Gaivota é o tipo de personagem que tem vida própria. Daqueles que nos transformam de uma forma dinâmica. Não pelas coisas que o autor diz, mas pelas experiências nas quais ele coloca o personagem. Às vezes a gente pensa que há certos tipos de beleza na vida que só a gente vê, e se sente incompreendido e só, pensando que deveriam haver mais pessoas como nós no mundo. É um sentimento meio egoísta e nos leva ser pessoas revoltadas com o mundo, o que é negativo. Mas, por outro lado, se agimos sabiamente como Fernão fez, sendo "o mais fiel a si mesmo" quanto possível e buscando cada vez mais conhecer a si mesmo ( Sócrates reverbera em toda a Literatura), podemos criar e viver o belo de uma forma mágica e universal. E descobrimos que, se não podemos tornar o mundo um lugar melhor, podemos pelo menos criar um mundo melhor pra nós mesmos e para os que estão ao redor. "Trabalhar para Amar", como disse o professor de Fernão na segunda parte do livro.
Hoje é dia dos namorados e minha namorada/esposa me surpreendeu com uma nova edição desse que foi um dos livros mais importantes que li. Não dá nem pra dizer o quanto fiquei feliz de encontrá-lo de novo e compartilhar com vocês os ensinamentos de Fernão, já que ultimamente tenho falado tanto em sala de como é importante fazer sua parte pra melhorar o mundo.
Para quem interessar, há um comentário ótimo sobre a história no wikipedia. Clique aqui e dê uma lida para conhecer mais do clássico. Se você tiver sorte, na locadora do seu bairro pode haver o filme, que não é tão emocionante quanto o livro, mas também é lindo sempre vale a pena conhecer mais.


domingo, 10 de maio de 2009

Engenhosamente Longe



A música Future Soon do Jonathan Coulton com a minha tradução. É lógico que tomei algumas liberdades. Foram poucas, mas você sempre pode procurar a letra original...

Futuro Próximo-Jonathan Coulton

Semana passada eu deixei um bilhete na carteira de Laura
Ele dizia “eu te amo”, assinado como um amigo anônimo
Ela era mais esperta do que eu achei que fosse
Ela sabe que fui eu que escrevi, agora a classe toda sabe
E agora estou totalmente sozinho e atrapalhado
Enquanto ela passeia com outro cara em seus braços
Mas eu sei que esquecerei o olhar de piedade em sua face
Quando estiver vivendo na minha redoma solar em minha plataforma no espaço

Pois esse será o futuro próximo
E não serei sempre assim
Quando as coisas que me deixam fraco e estranho estiverem engenhosamente longe
Será o futuro próximo
Nunca vi isso tão claramente
Quando meu coração está partido eu posso fechar meus olhos e tudo está aqui

Eu provavelmente serei algum tipo de cientista
Construindo invenções no meu laboratório espacial
Eu darei fim à fome no mundo e farei gofinhos falarem
Trabalharei muito dia e noite, gastarei minhas noites e finais de semana
Aperfeiçoando minha raça de soldados robôs
E construirei para eles uma arma laser em algum momento
E farei meu melhor para ensiná-los
Sobre a vida e sobre o que vale a pena
Só espero que eu possa impedi-los de destruir a terra

Pois esse será o futuro próximo
E não serei sempre assim
Quando as coisas que me deixam fraco e estranho estiverem engenhosamente longe
Será o futuro próximo
Nunca vi isso tão claramente
Quando meu coração está partido eu posso fechar meus olhos e tudo está aqui
Aqui na terra todos se adimirarão
De como eu me reconstruí pedaço por pedaço
E serei todo feito de aço e circuitos
Mas ainda estarei sozinho
Até que Laura me chame pra casa

Eu a verei ao passar num monorail
Ela parecerá como sempre, exceto por seus olhos biônicos
Ela perdeu os de verdade na guerra dos robôs
Eu direi que sinto muito, e ela dirá: não foi culpa sua...ou foi?
E me olhará desconfiada
Ouvindo a confusão de seus circuitos internos
Ela gritará e tentará fugir
Mas não há onde se esconder
Quando um ciborgue louco quer torná-la sua esposa robô

Pois esse será o futuro próximo
E não serei sempre assim
Quando as coisas que me deixam fraco e estranho estiverem engenhosamente longe
Será o futuro próximo
Nunca vi isso tão claramente
Quando meu coração está partido eu posso fechar meus olhos e tudo está aqui




WAKING LIFE?

O SENTIDO DA VIDA
Por Edvaldo R. Leite

Conhecer tudo sobre tudo é impossível, mas tentar tornou-se para mim quase que como buscar um tipo de tesouro, de riqueza. Não aquela que se acaba com o tempo, que é passível de ser tomada por ladrões ou que não vale nada se você não pode usá-la. Mas uma riqueza que permanece comigo e permanecerá a vida toda. Podem quebrar minhas pernas, trancar-me numa solitária ou banir-me para um deserto, mas jamais conseguirão apagar o conhecimento que está incrustado na minha alma.
“A ignorância é a vizinha da maldade”, diziam os árabes. Mas só conseguimos ter certeza de que a maldade existe quando ela não é mais um rumor, mas uma realidade. Quando ela bate a nossa porta como na quinta sinfonia de Beethoven. Eu me pergunto se um dia verei esse mundo mudar sem que exista a necessidade da violência. Me pergunto de onde virá a revolução. Com certeza, ela realmente “não será televisionada”.
Estar aqui e tentar fazer o que eu faço é um enorme e desigual luta. O que eu tento fazer é colocá-los o mais próximo possível da verdade, seja ela qual for. O que estou tentando fazer é formar transformadores, pessoas que se sintam capazes de, a seu próprio modo, tornar esse mundo um lugar um pouco melhor e desse país um país de que se tenha orgulho de se viver. Vocês devem imaginar o quanto isso é difícil, pois existe muita gente interessada em fazer com que vocês tenham preguiça de estudar, de aprender, de tornarem-se pessoas vivas, atuantes, inteligentes e sagazes. É toda uma corja de políticos corruptos, multinacionais sugadoras de almas em busca de mais e mais riquezas materiais e a mídia hipnotizadora que age em harmonia com esses monstros para ajudá-los a alcançarem seus objetivos, manipulando nosso pensamento e suprimindo nossas opiniões com suas novelas, o futebol, o incentivo ao adultério, a banalização do sexo e da violência, a desvalorização do corpo e da inteligência feminina e a dissolução da família. Aos poucos eles nos fazem acreditar erroneamente que a educação tem pouco valor, que não temos nada a ver com a política e que o fato da terra estar sendo destruída não tem nada a ver conosco. Como podem ver, estou nadando contra a maré e isso é muito, muito desolador para mim.
Muitos de vocês foram treinados para pensar que não são capazes de grandes feitos. Muitos de vocês sequer foram treinados para pensar. Isso é realmente muito triste, porque eu também não fui. Mas herdei de meus antecessores uma teimosia que para meus inimigos é assaz inconveniente. Eu quis pensar. Isso se tornou para mim uma arma única e indestrutível contra tudo o que me limita. Neste momento eu posso não ser muita coisa. Mas acredito que o valor de um ser humano está naquilo que ele quer ser, não no que ele é. E muito mais ainda, esse valor é medido pela vontade e pelo esforço que ele faz para se tornar algo melhor. E TODO MUNDO PODE SER MELHOR. Basta ter um objetivo e trabalhar por ele.
Eu sei que tem gente aqui que não pensa muito na própria vida ou tenta não pensar, talvez por medo de ver que essa vida é difícil de mudar, medo de acabar vendo que não é capaz de mudar muita coisa. Mas você jamais esteve tão enganado. Não tenha medo de se conhecer, de ver o quanto precisa ser mudado. VOCÊ É CAPAZ. Não passe por esta vida apenas por passar. Construa algo. Uma grande contribuição nem sempre é uma contribuição grandiosa. Ás vezes coisas muito pequenas como ensinar uma criança a pedir licença têm um valor incomensurável na tentativa de tornar o mundo um lugar melhor pra se viver. Não precisa ganhar um Nobel para saber que você é parte do mundo e contribui para sua transformação.
Sócrates dizia que “uma vida que não é passada em revista não merece ser vivida”. Ele queria dizer que quando você não busca pensar no que acontece com você e com o mundo, sua vida, esse dom incrível de Deus, acaba se esvanecendo e ficando sem propósito, sem luz, não vale muita coisa.Não é a toa que ele foi o homem mais sábio do seu tempo. Ele não dava sentido à vida das pessoas. Ele apenas ajudava cada um a encontrar um sentido para a sua própria vida. E se a pessoa não conseguia encontrar esse sentido, ele dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. E a pessoa, ao se conhecer, vendo que sua vida não tinha nenhum sentido, nutria-se de coragem e criava esse sentido. E você? Já criou um sentido para a sua vida?

terça-feira, 21 de abril de 2009

DOBRANDO O GALHO DA PALMEIRA COMO VIU MESTRE KANO

Acho que o nome do cara era Gigoro Kano. O homem que criou o judô. Vendo como se dobravam os galhos das árvores, imaginou que aqueles movimentos poderiam ser reproduzidos pelos membros do corpo para defender-se dos golpes dos oponentes. E assim pode ter surgido o caminho suave. Para fazer suave meu caminho, tenho que ser tão flexível quanto a natureza que inspirou as artes marciais. Eis aí o meu texto quase da mesma forma como o li na classe, até mesmo com os erros textuais, ortográficos, de coerência com a realidade...

VOCÊS É QUE ESTÃO PRESOS COMIGO...




QUEM VIGIA OS VIGILANTES
Por Edvaldo Ramos Leite


A frase que Alan Moore coloca como a pergunta chave de uma de suas obras primas aqui aparece como uma proposição. Uma sentença que você pode colocar como um apontar de dedos para o clássico culpado pelos males e conflitos do mundo. Desde a destruição das florestas tropicais até às sucessivas e, infelizmente, banais micro e macro guerras que tornam sacais os noticiários. Os assassinatos, a deterioração do intelecto jovem, as desertificações e o aquecimento global, a iminência de uma nova forma de pandemia.
Somos exatamente aqueles que deveriam estar na ativa, perguntando e questionando, forçando a justiça a ser feita, tornando a revolta uma arma, mas também um escudo, pois a revolta consciente, fruto de uma educação consolidada e arraigada em um espírito vivaz e aventureiro, é uma força tão intensa e transformadora quanto a força da água.
O termo “vigilante”, para as autoridades e para o direito penal de vários países, incluindo o nosso, designa cidadãos que tomam para si o dever de exercer e fazer valer a justiça prevista pela Lei vigente no Estado, obrigação do próprio Estado, incumbência exclusiva do mesmo. Em outras palavras, o vigilante é um vingador. Um citadino cansado de esperar que o lento malabarismo das autoridades em achar buracos na Lei cesse, impedindo que tais autoridades achem motivos para não trabalharem. No contexto das noções distorcidas da nossa sociedade, o vigilante é um bandido, passível de ser preso e condenado tal como supostamente o algoz vingado também o é. No nosso contexto, o vigilante é um herói. O único disposto a dar sua vida para fazer o trabalho sujo que ninguém quis fazer enquanto era limpo.
Hoje, tudo está fosco, turvo por uma nuvem de inverdades e maquinações “propagandescas“ manipuladas por não se sabe quem. Talvez o mundo esteja mesmo caindo em um aumento entrópico na busca de desacelerar, um grito final por ajuda, um pedido de socorro. Um mundo precisa de vigilantes, pois eles são as medidas extremas que surgem em situações extremas.Perceba, sempre que uma guerra está para surgir, o mundo passa por uma crise. A crise por territórios nas colônias da África antes da Primeira Guerra Mundial de 1914. A crise de 1929, com a queda da Bolsa de Wall Street pouco menos de uma década antes da Segunda Guerra Mundial. A Revolução Cubana e a caça às bruxas instaurando o medo, somando-se à terrível guerra psicológica taxada pela história de Guerra Fria que culminou em conflitos sangrentos como a Guerra do Vietnã, uma verdadeira luta de Davi contra Golias onde o Davi manteve a tradição da vitória, claro, a seu preço.
Diante dessa possível verdade, o que se pode esperar como fruto do que os jornais nomeiam de crise Econômica Mundial? Não há como saber. Imagino que você, meus queridos, não tenham muita idéia do que possa ter ocasionado a tal da crise, ou sequer entendam por que raios ela quebrou os dois joelhos da nação economicamente mais forte do mundo. Semana passada a Coréia do Norte descumpriu sanções da ONU e fizeram testes com mísseis de longo alcance que tiraram fino no Japão e disseram o que todo mundo sabe ser mentira: “foi o lançamento de um satélite”. Não há satélite algum na órbita prevista na exosfera e nenhum sinal de satélite novo captado pela tecnologia de telecomunicações. Não se pode afirmar nada a respeito do futuro. O futuro não existe. E, como dizem, o passado já não existe mais. O mundo certamente caminha para o caos e o caos tende a aumentar. Só há como tentar ter o poder de controle sobre algo no mundo, na nossa vida se soubermos onde estamos, por que estamos aqui e se nosso contexto realmente precisa de nós. Não há como arrumar uma casa que está no escuro. Precisamos acender as luzes. E a luz do mundo é o pensamento, a virtude, a vontade de excelência, mãe da civilização, a ânsia por fazer bem feito mesmo a tarefa mais simples, mais singela e, aparentemente mais inútil.
Penso que essa excelência que os antigos gregos chamavam de Areté foi substituída por uma preguiça enorme de pensar. Pois quem pensa toma posse do próprio destino. E que tem o controle de si mesmo sabe para onde está indo e reconhece a mentira e a manipulação, luta contra a injustiça, sabe falar, sabe argumentar e facilmente vence guerras e conflitos sem desferir sequer um soco, quem dirá um tiro. Quem sabe pensar não precisa de exércitos, territórios, estratégias bélicas nem armas nucleares. Não é a toa que a censura é o primeiro recurso de uma ditadura. Calar as vozes inteligentes é o caminho mais fácil para o domínio.
A pergunta que lhes faço, tentando não fugir do nosso assunto depois de tantos aparentes rodeios é: “Quem são os vigilantes?”. Há como evitar o mal que possivelmente se aproxima? Eu posso fazer algo para evitá-lo?
O beija-flor, mais uma vez, contraria o leão e importuna as mentes acomodadas e , ao invés de despertar o interesse pela situação do mundo, na busca de torná-lo menos injusto, afugenta-as e separa ainda mais o joio do trigo. Não sei se isso é bom ou ruim, mas preciso tentar.
Só peço, meus amigos, meus queridos, que pensem. Mesmo que ao final de suas reflexões, a escolha seja a de não se importar com o caminho das coisas, com os rumos do mundo. Pensem e busquem pensar mais ainda no sentido de você estar aqui, mesmo que ao final de suas reflexões a conclusão seja a de que não há sentido algum. Porém, entenda que , se não há sentido em estar aqui, é perfeitamente verossímil o poder que você tem de construir um sentido. Pense sempre que, já que você está aqui mesmo, não custa nada tentar ser o melhor. Assuma sua vida e o seu papel. Pois você que o mundo está chamando. Você é o vigilante. Dê um passo a frente e tome posse da sua vida antes que o sistema, os cinzas ou seja lá quem for que esteja por trás de toda a bagunça tome. Construa sua mente, seu pensamento. Construa uma idéia, um objetivo e inclua o mundo ao seu redor nesta idéia. Busque torná-la real e se surpreenderá positivamente com o pouco dela que de fato se concretizar. Vai ver que pode muito mais. Construa seu próprio ser, leia, saiba o que está acontecendo ao seu redor e acredite no efeito borboleta, que uma ação mínima pode resultar numa seqüência de eventos imprevisíveis capazes de transformar tudo. Se não der certo, pelo menos você vai saber que a escolha foi sua e de mais ninguém. E acredite, as pessoas ao redor se lembrarão do herói, não do vigilante.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Das Florestas Para Outras Dimensões: entendendo uma pulp


As pulp magazines são publicações populares que alcançaram seu auge nas décadas de 20, 30 e 40 nos EUA. Em tais revistas eram publicadas histórias de conteúdo facilmente assimilável à massa trabalhadora americana, constituída de pessoas de baixa formação educacional e de pequeno poder aquisitivo, não acostumada a ler “a grande Literatura” em tempos preocupantes como os que se seguiram desde a Depressão até a segunda Guerra.

As pulp magazines chegaram a ser um dos entretenimentos coletivos mais popular de sua época ao lado do cinema. As histórias, sempre escritas em linguagem simples abordavam desde esportes e histórias médicas até western, aventuras na África e batalhas aéreas, sempre seguindo fórmulas previsíveis por vezes se assemelhando ao formato utilizado atualmente no Brasil em suas telenovelas. No entanto, as pulp fictions (como passaram a se chamar tais publicações na década de 30) tornaram-se mais famosas ainda com o advento das revistas específicas com contos de ficção científica, mistério, suspense e terror. Os títulos mais importantes dessa vertente das pulps era revistas como Weird Tales, Wonder Stories e Amazing Stories, esta última criada por Hugo Gernsback, também conhecido por ser o criador do termo Sci-fi (science fiction).
Em sua época, as pulps eram consideradas material literário de baixa qualidade e até hoje o termo pulp fiction é utilizado para designar histórias um tanto absurdas e de gosto duvidoso como as que eram lidas por um enorme número de homens, mulheres e adolescentes da primeira metade do século passado.Porém. a palavra pulp evidenciava o trato que era dado a esse tipo de entretenimento. Os textos eram impressos em papel feito de polpa de árvores, mais conhecido como papel jornal, mais barato e perecível. Os escritores responsáveis, não raro, utilizavam pseudônimos para livrar sua identidade caso quisessem um dia se tornar escritores “sérios”. Um caso interessante acontecia com Martho Neptura, pseudônimo inicialmente utilizado pelos primeiros autores do título para escrever as histórias da heroína científica Promethea.





Este mesmo pseudônimo foi utilizado por n outros que vieram a assumir as aventuras da heroína, ressuscitada desde 1999 pelas mãos místicas do mago Alam Moore nas festejadas HQ´s de seu selo American´s Best Comics.
As revistas pulp, diferentes das HQ´s eram baseadas fundamentalmente nos textos. Porém, as capas incríveis de algumas delas acabaram por fazer deste artifício um ótimo chamativo para o que poderia haver no conteúdo, fazendo com que vários ilustradores posteriormente consagrados tivessem seu inicio associado às pulps. Curiosamente, alguns dos grandes escritores do “cânone literário” lograram êxito após sua passagem pelas revistas de polpa de madeira. Todo o espaço que não era preenchido pelas histórias era dedicado a anúncios de toda uma gama de artigos diferentes, recurso que mantinha as publicações.
O que antes era apenas um passatempo para milhares de americanos sofredores, gente comum buscando um certo escapismo de sua dura realidade, hoje exerce um enorme fascínio em todos que se interessam por cultura pop. As pulp fictions deixaram uma marca indelével em tudo o que foi feito nas HQ´s , no cinema e nos seriados de tv. Alguns dos fatores que causaram o declínio das pulps foram a invenção e popularização da tv, a falta de recursos financeiros em decorrência da segunda guerra e a ascensão das histórias em quadrinhos a exemplo da era de ouro inaugurada com o lançamento da lendária Action Comics #01, que marcou a história da cultura pop ao trazer ao mundo as primeiras aventuras do Superman.






Os heróis, os comandantes de naves espaciais, os ataques alienígenas, as histórias de fantasmas, monstros e aberrações de natureza criptozoológicas são exploradas até hoje em diversas mídias. HQ´s como a incrível Planetary de Warren Ellis saúdam vários dos personagens que figuravam nas pulp fictions como Doc Savage, Tarzan e Spider. No Brasil, apenas um público reduzidíssimo tem acesso a materiais pulp que vêm sendo produzido no underground do underground por fãs de sci-fi, terror gore e fantasia, logicamente, com recursos ainda menores e uma tiragem que nem de longe se compara com a que era disponibilizada ao público em seu auge.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

E-ZINE: ode a gregor samsa...


De Homem a barata. Estribuchei, esperneei, mas não deu para fugir. Terei de tornar o DPZ um e-zine. Nada contra e-zines, muito pelo contrário. Pretendo até colocar muito em breve uma lista de e-zines muito competentes que leio muito, tanto de terror como quadrinhos. É um infeliz destino para uma idéia que poderia dar certo. Mas não estou tão triste assim porque tenho consciência de que só não é possível continuar como zine fixo por causa das intensas atividades mantidas pelo dono deste blog, empolgado congregador das matérias e das histórias que comporiam o DPZ de papel. Até mesmo patrocínio tínhamos.


Sem problema. Sei que terei um longo caminho sozinho, a exemplo dos meus heróis preferidos da net. Poderão ser anos e anos de trabalho silencioso até que ALGUÉM me encontre. uma longa evolução possivelmente começa neste momento. Assim, se você me lê agora, é porque pode ter recebido um e-mail meu com os textos do primeiro número. Essa é a maneira mais urgente que encontrei de permanecer em atividade. Com vocês, para a despedida do papel e deste post, mais uma homenagem aquele que foi grande e é grande.




domingo, 4 de janeiro de 2009

"...está a passagem para um mundo estranho..."

O DPZ(DELÍRIO PULPZINE) PODE SER ADQUIRIDO DIRETAMENTE DE MIM, O VÓRTICE, ATRAVÉS DE PEDIDOS FEITOS AQUI NO BLOG POR MEIO DOS COMMENTS OU ATRAVÉS DE E-MAILS, OU MESMO DIRETAMENTE EM ALGUNS EVENTOS RELACIONADOS A FANZINES PREVIAMENTE ANUNCIADOS AQUI. ELE CUSTA R$ 0,50 E COMO FANZINES ANTERIORES, OS PEDIDOS FEITOS POR E-MAIL SÃO PRONTAMENTE RESPONDIDOS E AS INSTRUÇÕES DE AQUISIÇÃO SÃO DADAS.
PORÉM, COMO EU JÁ FIZ COM ALGUNS FANZINES ANTERIORES, ELE PODE SER ENCONTRADO ESTRATEGICAMENTE ESCONDIDO EM ALGUNS LOCAIS DA CIDADE, TAMBÉM PREVIAMENTE ANUNCIADOS. É CLARO QUE SÃO LUGARES ONDE APENAS UM FANZINE PODE SER DEIXADO, PORTANTO, QUEM ESTIVER INTERESSADO PRECISA SER RÁPIDO.
É TUDO MUITO RÁPIDO E FÁCIL COMO MUITA COISA TEM QUE SER.
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TRANSMISSÃO ATUAL: FINALIZADA.

"...em uma cidade estranha..."


Este é o DELÍRIO PULPZINE # 1. A capa é o tenebroso vampiro Radu, da série de filmes dos anos 90 chamada "Subpécies". Também estão no zine uma apresentação singela do que foram as pulp magazines, as divertidas e inusitadas publicações das primeiras décadas do século passado que divertiam e alimentavam a imaginação de jovens e operários desempregados ou sub-empregados, vitimas da crise...econômica...mundi...bem, continuando, nele está também uma matéria bem pequena sobre a incrível série da Wildstorm, Planetary, escrita por Warren Ellis e desenhada magistralmente por Jonh Cassaday e arte-filnalizado por Laura Depuy. Tanto o roteiro como a arte da série são estupendos. Recentemente, foi lançado lá fora o número 27, ou seja, o último. Se você gosta de quadrinhos, mas se perde com a complicada cronologia dos comics clássicos como Superman e Homem-aranha, séries como Planetary são a melhor opção, já que cada número trás uma história completa, porém, sutilmente ligada às anteriores. o mestre Ellis possui outras criações no estilo como Global Frequency que está saindo periódicamente pela excelente Pixel Magazine. Eis aqui um link muito massa para o blog de um cara chamado Nano Souza. É apaixonante.
E, por último, trazemos também a primeira e polêmica história CONSPIRAT, que trata da busca de um jornalista por seus amigos de uma ONG que, ao colher material para um documentário, acabaram descobrindo irregularidades nas construções do METROFOR e ele próprio se vê no meio de uma conspiração envolvendo estranhas criaturas em algumas estações, que mesmo no nosso (absurdo...?) futuro fictício, ainda não estão nem perto de ficar prontas.
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Pois, é. Alguns tiveram crises convulsivas de entusiasmo, outros de raiva. Isso é ótimo sinal, quer dizer que conseguimos causar reações diversas com um conteúdo, digamos, diferente. Quer dizer, como eu comentei no primeiro post, é mais fácil imaginar os eventos de Conspirat acontecendo em Nova York ou Londres, mas pessoas ficam revoltadas com histórias acontecendo aqui mesmo em Fortaleza, em locais pelos quais elas passam o tempo todo! É necessário que mais histórias desse tipo possam surgir, e não só histórias de terror e sci-fi como propõe o DPZ, mas todo tipo de outras histórias, de poesia a quadrinhos. Quem sabe, depois de fazermos com que essas coisas escritas fiquem populares e baratas e mais acessíveis (inclusive em termos de conteúdo), possamos perceber que um novo tipo de literatura popular cearense surgiu. Durante muito tempo, e até hoje, os fanzines "tentam " algo assim. Mas como eu mesmo já critiquei, acho que pouco se consegue devido ao teor extremamente intimista dos textos! O meu PARANÓIA talvez seja um dos piores exemplos desse tipo de fanzine. Mas, qualé!? " Abelhas são mais atraídas por néctar do que por vinagre". Ou: Kafka e Virginia Woolf são magníficos, mas um pouco de Stephen King não faz mal a ninguém. Acho que é perfeitamente possível que um mercado troncho de "objetos literários não-identificados" possa acontecer muito em breve se mais pessoas como meu blog-amigo D. Carlos tornarem tudo mais fácil para os potenciais leitores da cidade. Se você observar bem, pode perceber que as pessoas, mesmo que acidentalmente, gostam de ler e se envolvem com certos tipos de leitura. Principalmente quando não percebem que estão se enriquecendo um pouco com ela. No salão do barbeiro que frequento há mais de treze anos vejo alguns homens, que não sentiriam afeição nenhuma por Nelson Rodrigues, comentando casos esdrúxulos lidos nos jornais deixados ali. Seção policial. Vida COMO ELA É! Simples. Direto. Impressionável. Isso é comunicação.
Existe ainda muita repulsa do "povão" em geral em pôr as mãos em algo muito..."culto". Essas duas expressões, na minha opinião, carregam em si a mesma carga de deboche. Acho que é perfeitamente possível que um grupo de pessoas possa, propositallmente ou não, transformar o "povão" em um GRANDE POVO. E é com leitura que isso acontece. As pessoas da cidade precisam ser cutucadas de alguma forma. Mas eles não podem saber disso. Em algum momento, sozinho no seu quarto, aquele cara que vive na calçada falando de swingueira, maconha e festa com seus amigos tem de sentir uma vontade de escrever porque ele sabe que pode dizer algo! E que é fácil fazer isso. Ele precisa se comunicar, e vai buscar aprender a fazer isso e vai querer ler coisas um pouquinho mais complicadas do que o caderno de esportes do jornal. Quem sabe algo no caderno de cultura o interesse. O caminho é muito, muito simples.
Estou delirando...?