sábado, 28 de setembro de 2013

TIMERE DIEN

Art by Michael Marsicano


O sol é meu despertador e o dia é um filme surrealista.
Olho pelas persianas e vejo seres estranhos que seguem para o trabalho sem se perguntar aonde vão. Tenho medo de pôr o pé fora de casa e me tornar um deles. Olho de cima da minha torre. Não sou uma sentinela. Só o sobrevivente de uma guerra da qual me recuso a participar.
Lá vai um gigante com o planeta nas costas. Ele não sabe, mas eu o admiro porque mesmo com o peso ele sorri. É necessário força para carregar o mundo. Muito mais para sorrir diante do sofrimento.
 No sentido contrário vem um enorme sapo que insulta os filhos e protege quem está fora. Dele eu não gosto, mas seus filhos me fazem ver que a beleza surge do improvável.
Se eu espero mais um pouco vejo um esqueleto milenar que conviveu com faraós. O faraó morreu com tesouros em volta e os ossos daquele homem continuam sendo ossos de um escravo.
Aqui continuo a luta silenciosa. Vitórias e derrotas. O chamado pelo Eu do Futuro para revelar os passos seguintes. A espera pelo Formidável Golpe de Sorte. Um diálogo difícil com a solidão. Tento convencê-la de que não é necessária, de que posso crescer sem ela. Peço que vá embora e ela insiste em ficar. Aí eu saio.
Mas não é assim que se joga. Cada dia que passa me convence mais de que não há uma chave para o equilíbrio. Não há como saber o que devo ou não entregar para o mundo. Penso nos amigos vividos em experiências, nos livros dos iluminados, até nas mentiras dos poetas invisíveis. Ninguém terá as respostas. Precisarei construí-las, forjá-las como Hefesto fazia como as armas de Aquiles em seu imenso lar de lava.
Agora é noite. Dorme o gigante. Descansa o sapo. Recolhe-se o esqueleto. Ainda estou acordado com promessas e esperanças.