segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O SERENO E A TEMPESTADE

Art by Julien Coquentin


Quando ela se aproxima a gente sabe.
Há tempos comecei a pensar num jeito de ficar firme na tempestade. Uma forma engenhosa de não sair voando com o vento e me chocar contra paredes. É o trabalho de uma vida chegar nesse estágio. Um Nirvana dinâmico de invencibilidade.
Cada experiência e sentimento com os quais tenho trombado ao longo desses anos são em dado momento uma bênção, em outro uma maldição. Como ventos e chuva que destroem, mas que limpam o caminho. Há livros, pergaminhos, e por gerações os anciãos disseminam a grande cabala da serenidade, mas parece que isso não é algo que se alcança ou encontra. Quanto mais vivo, mais imagino que é algo que se escolhe.
Na semana que passou, sofri o Apocalipse e germinei alternativas. Algo morreu em mim e alguém morreu lá fora a morte que desenhei. Algumas peças se encaixam de forma tão inusitada que nos fazem parecer ridículos com as mãos na cabeça, buscando soluções complexas quando a única coisa a ser feita é juntá-las, mesmo duvidando da união. Não há nada tão ridículo quanto viver. Nada tão doloroso e mágico a um só tempo.
Vejo algumas pessoas de braços abertos na tempestade, deleitando-se da possibilidade de ser tragado definitivamente. Não consigo entender como elas ousam. Ficar firme é, talvez, impossível. Talvez seja só olhar para o céu revolto e abrir os braços. Vai ver que o céu, como o abismo, nos olha de volta e teme não conseguir nos derrubar. Então se acalma.

No final, é escolha. Mas no começo é coragem.

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