segunda-feira, 19 de agosto de 2013

AS PEQUENAS IRONIAS

Art by Stanley Kubrick


Você já passou a gostar de alguém que um dia odiou?
É um grande golpe. Deixa nossa cara no chão.
Mas convenhamos, é muito divertido. Devolve-nos à condição de mortal. Revela um segredinho valioso e o que aparentemente é uma terrível humilhação acaba nos engrandecendo. E tudo o que aconteceu foi que notamos a pequena verdade de que no fundo ninguém é totalmente mau ou bom.
Quase dá para se odiar também. A vida é mesmo uma ironia kubrickiana. Somos a criancinha assistindo o sobe e desce da montanha-russa a se perguntar se vamos aguentar a violência da descida. E é descendo que a gente pensa no que fez.
Posso dizer para vocês que dói. Mas toda dor fica suportável quando a gente sabe seu significado. E ficamos assim, vacinados. Aprendendo que não somos senhores nem do nosso próprio olhar sóbrio.
Quem dera soubéssemos a sagrada arte do “nunca julgar precipitadamente”. Aquela mesma que é irmã do “colocar-se no lugar do outro”. As cicatrizes são necessárias e talvez nossos melhores amigos estejam escondidos entre os inimigos.
Porque os mais formidáveis inimigos são aqueles que carregam pedaços de nós.

Onde eu paro e me viro, saio para outra volta/ Até que eu volte ao fundo e te veja novamente.” – Helter Skelter, Beatles.


Nenhum comentário :