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Livraria atingida por ataque aéreo - Londres, 1940. |
Todo
mundo tem algo que considera importante na vida. Um conjunto de pessoas,
valores, noções que lhe são caras e que são o motivo de continuar. E no meio
dessas coisas que se pode tocar e das outras que preenchem a alma, há aquilo de
natureza indefinível.
Nem
é matéria, nem energia, nem pensamento. O dia segue. Tristezas e alegrias,
trabalhos e lazer. Tudo passa e é sorvido na velocidade de uma refeição. Mas a
coisa indefinível está lá. Se você está me lendo agora, existe uma séria
possibilidade da sua ser parecida com a minha. Já que eu não posso definir,
talvez possa apenas falar algo a respeito. E se você sorrir...
Quando
acordar é encontrar um sol manso, como se o próprio dia dissesse bom dia. Há
uma solidão que parece um brinquedo novo, o papel de presente deixando um
cheiro bom de surpresa, de ânimo. E esse brinquedo é dos que você aperta um
botão e se transformam em outra coisa. Talvez seja da Glaslite, quem sabe da
Gulliver ou da Estrela. Que diferença faz?
Há
dias que a tarde é linda. Eu tento sempre pensar que neste exato momento há
alguém plenamente feliz com tudo. Fico imaginando se um dia vou chegar a
conhecer essa pessoa e numa conversa casual ela vai me dizer: “No dia tal eu
estava tão feliz! Foi o melhor dia da minha vida!” E aí eu digo: “Sim, eu sei.
Eu estava pensando em você.” E ele ou ela diz: “Impossível, isso foi há vinte
anos, a gente nem se conhecia.” E eu digo: “Você nunca conversou com
estranhos?”
Mas
talvez a noite seja a mãe dos livros. É quando as musas passeiam e as ninfas
cantam. Quando monstros despertam e os guerreiros bebem para saírem abraçados,
cantando canções engraçadas. Hoje eles conhecem carros e ônibus que trafegam
por avenidas iluminadas e os embates se dão entre catedrais e nas trevas dos
becos.
Manhã,
tarde e noite. O tempo possui fendas por onde escoam histórias, passagens para
lugares imensos. De Nárnia à Terra do Nunca. A Terra Média, Shangri-la.
Metrópolis, Gothan, os Domínios dos Perpétuos. Imatheria. E em sua mente,
talvez aquele que jamais se repetiu.
Por
aquilo que me move me perdi e me encontrei num outro tempo. Quando aqui
acordei, vi que nada mais será como antes. Em sua busca talvez você se depare
com o mesmo e também se assuste. Mas talvez aprenda lição semelhante à minha. Devemos
ter grandiosos desejos, mas eles jamais podem ser maiores que nós mesmos. Eles
devem nos completar e não nós a eles.
Tudo
acontece quando a gente fecha um olho. Tudo acontece quando a gente fecha o
olho certo. Isso faz a gente conquistar o dia e engravidar a noite. Ou
engravidar dela. E ver nascer a luz de outro poder, abrindo fendas no tempo, se
esgueirando entre realidades, mandando mensagens e conjurando amigos. Esta foi
a jornada em busca de uma voz para o inominável. Saga de transformações,
nascimentos e mortes. De promessas e ações. Fim verdadeiro.
E
que fim é apenas o fim?
Se
você sorriu...então somos irmãos. Que a paz do Altíssimo permaneça com você.
(Quem souber o autor da foto, por favor, mande comment.;)