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Art by Jim Daly? |
Noite
passada, quis algo bom para reger meu sono. Não lembro o que sonhei. Mas confio
na precisão dos meus desejos, porque na manhã de hoje tive coisas para fazer: nenhuma
a ver com trabalho. Eu deveria estar triste, mas mentir assim não funciona.
Nesse
estado eu saio e assumo as tarefas.
Pequenos
eventos que só acontecem na mente de alguém lisergicamente feliz, eles pipocam
de lado a lado da cidade. Como gnomos espreitando nas esquinas, passando
correndo nas pontas dos pés, caçoando dos “despreocupamentos“.
Autoridades
afirmam que isso não é felicidade. Mas há controvérsias.
Dinheiro
alimenta máquinas. Também alimenta aquelas máculas fosforescentes que as
religiões chamam de pecado. Faz isso silenciosamente por dentro,
escandalosamente por fora. Minha saúde e a dos meus, o livro em minhas mãos, as
ideias na mente, respirar normal e ver tardes incríveis podem ser um pequeno
momento e para vivê-lo não adianta dinheiro. Pois é disso que tenho fome, não
sou máquina. E ninguém jamais precisará competir comigo.
Hoje
quero uma tigela de cochichos sobre uma nova história sendo escrita. Uma fatia
de alguém ouvindo R.E.M. no ônibus. Três copos de crianças inventando letras
poéticas enquanto soltam pipa na rua e de sobremesa uma belíssima e finamente
adornada taça de risadas com meu melhor amigo, seja lá quem ele for hoje.
Neste
mundo a esperança é uma gordice. Uma deliciosa infração. Somente satisfeitos,
com as mãos lotadas de delito, é que enxergamos cúmplices. E os grandes
feitores da Civilização não passam de tolas, ansiosas e famintas testemunhas do
magnífico.