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Art by Sophie Blackall |
Os
sonhos de outras pessoas também são assim? Cenários misturados, pessoas
desencontradas sob um céu positivamente escuro...
Ele
corre contra o tempo. As ansiedades do mundo desperto geram cenas frenéticas, mas
a pressa não é para os outros. É para si. Terminou um dia de trabalho e o coração
bate forte. Alguém espera. Um passo e já está lá. É um cinema. Gigantesco. Muitas
pessoas. Ele entra na sala, o filme já terminou. Não importa, foi o que
combinaram. Ela estaria lá, à espera.
Apenas
pôs os pés além da cortina e as luzes se acenderam. Muita gente andando,
falando, saindo.
Seu
olhar, do alto do auditório procura um rosto que deve brilhar entre mil. O
coração bate forte. É medo de não encontra-la. Ou de encontra-la. Namoram há
poucos dias e tudo é tão recente, repentino e delicado...
O
sentimento que ele deseja no olhar dela é uma florzinha, das mais pequeninas e
mimosas. Daquelas que a gente torce pra nunca murchar. Rega, beija e faz
carinho. Aprende até a rezar. Tão frágil, raro. Perfumado. Ainda está lá? Terei
de pedir um beijo ou vou ganha-lo? Mereço?
A
gente dali foi rareando. O olhar dele esquadrinhava todo o lugar. Parou nela de
pé, lá embaixo. Os olhos também procuravam. Por ele. Ai, coração pequeno! Quase
para. Está lá. A florzinha viva. Muito mais que viva. Mágica e linda. Ela sobe
o auditório com um sorriso matador. Não pare, coração. Precisa acontecer um
beijo. Está aqui ela, chegou bem perto. Os braços o envolveram. Os lábios o
tocaram. Chame o Guiness: novo recorde mundial de felicidade.
Meninos
sonham assim.
A
noite acaba, hora de acordar. A florzinha, o sentimento, vira segredo de alma.
Paixão não o descreve. Amor é grande demais. Deixa sem nome. Sente só, que era
mesmo florzinha que morreu. Ele a põe amassadinha dentro das páginas de um
livro. Um dia vai contar pra alguém que sentiu tudo de novo.
Nas
noites por vir, abre o livro. O coração se permite querer que em algum lugar, uma
moça tenha sonhado com alguém depois de um filme, aparecendo na multidão a se
perguntar: “Ainda está lá?”.