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Foto por Raphael Lucena |
Alguém
fala ao longe: “É mesmo assim...”. Mexe a cabeça, confirma. “Fica com essas
cores com o tempo", diz. "E com essas palavras. Giz de cera e versos de criança. Não
tenha medo.”
Não
distingo a figura, que parece falar dentro da minha cabeça, nem mesmo sei se ela diz essas coisas do que penso.
Se lê mesmo meu pensamento e, caso sim, se realmente pede para que eu continue
nessa direção.
Chega
um momento em que o amor é essa miragem. A sede e a fome anuviam os sentidos.
Correr é inútil, pois o paraíso continua sempre à mesma distância. Se não o
encontra onde você está, nunca vai bastar.
Insistir.
Resistir. Desistir. Em qual dos três está a coragem verdadeira, a redenção e a
catarse? Difícil saber. E caro. A descoberta é a própria ressurreição.
A
figura que dança, embaçada no calor da tarde eterna e seca, começa a gesticular.
Não se revela. Só se faz entender mais um pouco e minha tradução é falha (ou
minha visão se rende aos desejos...).
Ele
diz: “Amar é a estrela (de)cifrada. Não é felicidade, momento. É vida inteira e
tormento(a). Tudo o que (não) deveria ser e, no fim, mãos dadas”.
A
figura some. Há uma pequena poça d’água boa para beber a meus pés. Posso
caminhar mais um pouco. Morrer logo adiante? Quem sabe. Desertos são assim:
cada passo é uma aposta que jamais se abre mão de fazer.