domingo, 12 de setembro de 2010

TODAY YOUR LOVE..TOMORROW THE WORLD!!!!!!ramones

COMO EU E MINHA AMIGA SUE BABY CAPIVARA TEMOS MUITO O QUE CONVERSAR E POUQUÍSSIMO TEMPO PARA TAL, RESOLVI VOLTAR A ESCREVER CARTAS PRA ELA. HESITEI UM POUCO EM POSTAR A QUE VOCÊ ESTÁ VENDO ABAIXO PELO TEOR "TEORIA DA CONSPIRAÇÃO". NO ENTANTO, COMO AINDA ESTOU SEM ACESSO A COMPUTADOR E FAZ TEMPO QUE NÃO POSTO NADA, LAI-TE RAI:



Sue,

Sabe o que é incrível sobre mim na frente de um computador? Eu nunca consigo lembrar daquilo que parecia mais importante fazer quando eu estava longe dele. As idéias parecem sumir, ou mais precisamente, minha atenção fica completamente ofuscada pelo enorme aglomerado de coisas inúteis (e talvez por isso muito atraentes ) que se pode fazer num computador com internet. Quero dizer, com o monte de idéias para contos e textos para postar no blog que venho tendo, eu estou é teclando com a Díli sobre o Corta Bundas e vendo os VAGAZOIDES no Youtube!

Quando eu penso sobre todas aquelas coisas sobre as quais a gente tenta conversar (pois nunca dá tempo de ir direto ao foco...) fico imaginando que o que eu espero que aconteça é uma mega mobilização intelectual envolvendo música, cinema, TV e literatura onde pessoas como você e eu, que PRECISAM dizer alguma coisa, podem realmente se expressar, pois têm meios para isso. Aí alguém nos ouvindo enquanto divagamos no banco da praça do Liceu pode se perguntar:”Mas do que é que eles estão falando?! A internet não está aí para isso?”

Aí é que está, meu bom bisbilhoteiro da conversa alheia. No nosso caso, no meu e no seu, doce Sue, o meio não é o modo pelo qual a mensagem seria transmitida. De certo modo, o meio não seria nem mesmo como a mensagem seria transmitida, mas o meio, ensaiando uma aberração nos elementos que compõem a comunicação, é o próprio receptor da mensagem. Ele está lá, assim como o veículo, o código e a própria mensagem, mas o que ocorre é que a nossa mensagem é irrelevante para ele.

Esse nosso receptor, que apesar de funcional é um safado inútil que não entende nem se interessa pelo que temos a dizer, é alguém lá dos seus quinze anos, no mínimo, que quer tudo prontinho e detestaria pensar no por que daquela mensagem existir. Ele odeia textos longos e não sabe que existem outros tipos de abordagens temáticas na música que englobam assuntos para além da choradeira melódica envernizada de arrojo que costumeiramente se convenciona denominar de EMO. Eu diria mais, a mensagem e a forma a se configurar, pelo menos na minha mente é mais especificamente direcionada às pessoas que esses receptores serão num futuro próximo.

Nós podemos fazer muita coisa com os pouquíssimos (mas pouquíssimos mesmo) recursos que temos.Mas a importância do que temos de fazer torna a coisa toda um hercúleo desafio de renovação, ou mesmo de invenção de uma nova linguagem.

O fenômeno EMO não é em si o maior desafio porque não é o foco do problema,mas sim uma conseqüência, um efeito colateral que resvalou no nosso senso de realidade, um fragmento de todos os outros maiores e mais incômodos efeitos oriundos de uma raiz mais nociva. Sabemos que a raiz do problema, muito sutill e genialmente abordada pelo Radiohead na sequência de discos “OK Computer”, “KID A” e “Amnesiac”, é um ciclo de erros e negligências relacionadas a degradação do ente humano caracterizado pela crise na instituição familiar e resultando na formação de pessoas cada vez mais superficialistas e numa sociedade imediatista, fútil e com uma temível tendência a banalizar tabus, ser manipulada e disseminar formas em conteúdo.

Em linhas gerais, o que a gente quer, claro, não sendo rigorosamente preciso quanto aos seus objetivos pessoais, é talvez mais fundamental e menos pretenso do que o trabalho do prisioneiro liberto da caverna de Platão. Não queremos mostrar a verdade àqueles que supostamente não a conhecem, até porque nós pouco conhecemos da verdade. O nosso maior objetivo, se assim posso ousadamente falar por você, é apenas fazer frente a tudo isso. Oferecer alguma resistência. Tudo bem que os jovens de hoje não vejam relação alguma entre a política podre e a desigualdade social e sejam distantes o bastante para não raciocinarem que coisas ruins acontecem o tempo todo com as pessoas em parte porque não percebemos mesmo tal relação. Tudo bem que as pessoas não consigam entender que música, cinema e TV podem ser muito mais que só entretenimento. Tudo isso tem mesmo que existir. O problema é que não há equilíbrio. Aqueles que regem esse...sistema se é que existem, eles não possuem uma força de mesma intensidade agindo na direção oposta, eles não possuem um nêmesis.

O que queremos é isso, é existir para dar equilíbrio às coisas, mas olhamos para o lado e não vemos ninguém. Volta e meia encontramos alguém com aquele brilho no olhar que inspira cumplicidade com nossos propósitos e percebemos que, em algumas atitudes eles expressão objetivos semelhantes aos nossos. Esses são os chamados “heróis infiltrados”. Gente que parece estar agindo de acordo com o sistema, mas que na verdade o está sabotando delicadamente.

Pensar em revolução, alcançando esses níveis de mudança estrutural no zeitgeist, é sem dúvida uma utopia,mais até do que uma necessidade urgente. Mas o fato é que isso é uma necessidade urgente. Só que ela não acontecerá. Não há, pelo menos ainda, um líder ou uma idéia central, contundente e motivante e não há aquilo que parece ainda mais motivante: a figura de um inimigo. Esse algoz atual talvez esteja escondido num lugar onde os seus predecessores não puderam esconder-se, onde Hitler não pôde, onde os generais da ditadura não puderam, onde o Darth Vader ou o Big Brother do livro 1984 de George Orwell não pôde. O inimigo está em todos nós. Nos bons e nos maus, sob diversas formas. Em alguns na forma de medo, em outros na forma de vergonha, em outros na forma de conformismo, em outros na forma de pretensão. Esse facínora multifacetado conseguiu no seu mimetismo a arma mais eficaz de ação.

A suposta revolução, portanto, não se dará de forma abrupta, violenta. Ela terá de ser tão sutil quanto a situação. Ela deverá ser de dentro para fora. Então nossa primeira e maior estratégia será fortalecer o interior.

A única pergunta que me resta depois disso tudo é: “Tudo o que estamos passando, nossos fracassos, nossa consciência das deficiências e necessidades, isso tudo nos está fortalecendo interiormente?”

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