sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

V DE VIOLÊNCIA



Nos dois últimos posts eu me referi a um monte de coisas que até agora estão me incomodando pra caramba e tive duas respostas nos comments, uma bem diferente da outra. Mas ambas me tocaram muito, pois partiram de pessoas que me fizeram sentir que realmente entenderam minhas aflições.

A Adorável desconhecida (rsrs) Fernanda acha que a felicidade não precisa ser fácil (como de fato não é!). Acredito que isso faça sentido na medida em que só damos valor àquilo que nos custa esforço e tempo para conquistar. E o meu querido amigo semi-presencial Don Carlos acha que a felicidade deveria sim ser fácil. Isso faz sentido na medida em que entendemos a felicidade como um direito do ser humano que deveria vir no kit de sobrevivência imediata, junto com o leite materno e o oxigênio.

Falei sobre máscaras, adaptações cruéis à realidade, lobisomens e tudo isso tem a ver com o fato de que é muito mais fácil nos entregarmos às condições impostas pela sociedade do que nos revoltarmos contra o que está contra nós, o que nos coloca na obrigação de nos tornarmos pessoas completamente diferentes do que gostaríamos. Você já pensou se você é a exata pessoa que gostaria de ser?

Como eu havia dito, reprimir nossas vontades, nossas aspirações pela verdadeira felicidade tendo de “adaptar” (detesto essa palavra, Darwin...) nossa personalidade às condições provoca uma certa dicotomia na alma, empurrando partes importantes do nosso eu para dentro de lugares obscuros da mente. Eu sempre (assim como Alan Moore...) imagino um prisioneiro dentro de uma cela esperando o momento certo de vingar-se dos seus algozes. O que não dá mesmo para imaginar é como será essa “vendeta”. Certamente dependerá de como a pessoa encara as adversidades, de como ela alimentou as aspirações do prisioneiro. Pois anteontem um cara chamado Clay Duke nos deu um exemplo de como essa libertação pode ser violenta.

Ex-presidiário, desesperado após a demissão da esposa, pegou uma arma e calmamente se dirigiu ao colégio em que ela trabalhava e invadiu uma reunião de conselho mandando todos saírem, exceto aqueles que considerava responsáveis pela demissão. Com um spray pintou na parede o famoso “V” com um círculo em referência ao misterioso personagem da graphic novel de Alan Moore, mais conhecida pelo grande público pela adaptação de 2006 para o cinema.



 
Clay disparou algumas vezes contra as pessoas, quase foi contido,levou um tiro na perna disparado por um segurança. Encurralado, matou-se. Obviamente a intenção de Clay não era a de matar ninguém. As balas que disparou contra as pessoas eram de festim, enquanto a que o matou era a única verdadeira. Clay não queria matar. Muito menos morrer. Ele morreu justamente porque queria viver. Ele viu tudo o que estamos vendo agora, percebeu que estamos fingindo agüentar o fato de que precisamos de tempo, espaço e oportunidades para crescer em paz.Ele queria crescer, coisa que a sociedade cobrou dele, mas não lhe deu chance para fazê-lo. Sei que parece sensacionalismo, mas o que vejo aqui é que o homem usou suas últimas forças para nos dar um importante alerta a respeito do lugar para onde estamos indo. Ele só explicitou o que acontece todos os dias o dia todo. A face violenta da civilização emerge a cada dia das mentes das pessoas sufocadas.

E eu achava que a revolução se daria no momento em que puséssemos as máscaras, tal como V,no filme e nos quadrinhos. Mas Clay Duke me fez ver que a coisa toda irá acontecer quando as tirarmos.



Um comentário :

Carlos Alberto disse...

Sabe cara, tenho pensado muito na história que Moore criou. E sempre penso no que venho me tornando e detestando por não ser aquilo que realmente quero. A vida é bem complicada. Vivemos em um mundo muito estranho. Alguns devem deixá-lo como está. Mas o ato desse cara, o que teve de desesperado teve de real, e concordo contigo quando diz que o que ele mais queria era viver. Acho que coisas como essas irão acontecer cada vez mais.