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By Audrey Heller |
Caminhamos
anônimos. Aceitando que tudo é um organismo e fazemos parte dele. E as coisas
vão simplesmente funcionando. Até perdermos o sentido do que somos e isso é
mais do que natural. É um vício.
E
pode ser que chegue o dia de ensaiar o modo como será a vida sem você. É como tirar
o uniforme para sair de cena devagarinho, sem ninguém perceber e daí fingir que
foi embora. Sem ir. Esconder-se atrás de uma árvore, de um poste e espiar a
vida de todo mundo seguindo, a jeito delas tentarem ser felizes, o mesmo jeito
que você estava usando antes e não estava funcionando muito bem.
Fiquei
muito doente semana passada e tive de me ausentar dos lugares que frequento
todos os dias, embora tenha me visto obrigado a trabalhar mesmo debilitado. Creio
que a grande maioria das pessoas com quem cruzo sequer notou que eu não estava
lá. Mas duas figuras me surpreenderam em meu retorno.
A
primeira foi a garçonete do restaurante em que eu como. Ela nunca sequer olhou pra mim e mal me
atendia. Mas quando voltei ela passou parar e comentar sobre os livros que
deixo sobre a mesa enquanto almoço.
A
outra foi o senhor que sempre fica descansando no banco da praça onde leio no
período de almoço. Ele também trabalha ali por perto e era outro que jamais
imaginara um dia ter me notado. Nesse mesmo dia do meu retorno, enquanto
folheava o livro para achar a o ponto em que havia parado, ouvi-o cochichar com
seu colega: “Taí ele, pensei que não vinha mais”. E era sobre mim.
E
foi assim que descobri que não sou o único a observar as pessoas. Que de alguma
forma a paisagem precisa de você para manter uma certa aura. Uma característica
ímpar, um elemento que faz o sentido do momento permanecer. Não se trata de
importância, de ser especial. Se você um dia for arrebatado e deixar a
existência, a Terra não vai parar de girar e as pessoas não vão se jogar de
pontes.
Mas
é muito bom pensar que sem você as coisas ficam pelo menos um
pouquinho fora do lugar.
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