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Art by Juliana Lopes |
Tudo
o que se diz com mais certeza ainda é parte da grande interrogação. A certeza é
mais eufórica quando um vento quente, um facho de luz ou um eco do impossível é
ouvido. E aquilo nos parece resposta.
Sim,
alegramo-nos com pequenas verdades, já que todo o resto parece encenação. A
carne é fraca, mas a vontade é aço. E a pressa em chegar é o atalho do sumiço.
Ontem
conversei com um dragão. Ele me falou sobre as vantagens do fogo. O calor de
suas palavras me envolveu. Quis ser dragão.
Em
sonho eu andava pelas cordilheiras de um país gelado. Dei-me com um castelo,
uma sacerdotisa e um príncipe das neves. Disseram que o frio nos faz jovens
para sempre. Acordei tocando todas as coisas com mágicos dedos roxos.
Os
senhores da noite também vieram. O exército da destruição marchou na calçada.
Também uma revoada de anjos que entoou a Boa Nova sobre o telhado e uma quimera
que rosnou em meu ouvido. Todos eles transformam pensamentos em diamantes, mas
nenhum trouxe a resposta para a questão primordial: o que sou eu?
Quanto
mais eu vivo, quanto mais tropeço, mais percebo que é a única pergunta a ser
respondida.
Os
dias são marcados pela visita perspicaz dos gênios e demônios que adentram a
morada da esperança. E os demônios vêm por portas semiabertas. Não os deixemos
partir impunes. Querem roubar de nós o que é bom. Roubemos deles o momento do
portal. Do mesmo jeito que entram sem bater, devemos aprender a sair sem
avisar.
Eles
querem nossa prisão. Que acreditemos nessa euforia de um final ilusório. Não se
pode culpa-los. Enganar-nos é seu trabalho. O nosso é resistir.