quarta-feira, 16 de outubro de 2013

DO LADO DE DENTRO

Art by Teresa Wegrzyn


O coração é um jardim. Rústico e caótico. Floresta colorida com declínios e ondulações entre as miríades de cores que apontam aqui e ali. Se imaginarmos cada flor como uma pessoa de nossa vida talvez possamos entender como as coisas funcionam naquele espaço.
Sim, sou o único jardineiro do meu jardim. Certas regiões estão abandonadas, as ervas daninhas que partem de lá, volta e meia ameaçam a harmonia predominante. Se crescerem poderão destruir minhas flores mais bonitas. Mas elas não valem o trabalho de mata-las. O mal avança sorrateiramente, mas o bem pode ser tão astuto quanto.
Tudo depende de como você cultiva. Porque não há como escolher as flores que nascem.
O jardim do coração muda o tempo todo. Pequenas margaridas, tímidas e inseguras, podem transformar-se em pomposas magnólias, ao passo que magníficas orquídeas mudam-se facilmente em humildes boninas ao amanhecer.
Lágrima de orvalho, sorrisos de borboletas. Está tudo lá quando alguém incrível mora naquele pedacinho de coração que você tanto cuidou. Nem sempre é o pedaço que cresce, mas... não há um canto do jardim que jardineiro ama mais?

Mas o que mais gosto nesse meu patético anacronismo idílico é saber que não importa o quanto eu esteja mal nem a intensidade do temporal que despenca além dos portões do meu jardim. Dentro dele as flores são perenes. Dentro dele é sempre primavera.

“Por favor, não ponham um marcapasso
no espaço do meu coração (...)
Ponham num daqueles potinhos
Com água e açúcar
Em que o beija-flor vem beber.” 
 A Banda Mais Bonita da Cidade, Potinhos

Nenhum comentário :