[no trabalho às
16:20. Aproveitando que estamos sem
internet e telefone.]
Às
vezes acho que as pessoas têm medo de escrever.
Quando
eu era professor, sempre que podia, elaborava trabalhos em que os alunos
pudessem dizer por meio da escrita aquilo que pensavam sobre as coisas que viam
em sala. E sempre fui muito receptivo à tudo o que eles faziam. Tudo o que não
fosse mera repetição de algo que eu disse ou de textos e lições já vistas.
Valorizava tudo o que escreviam, mesmo que dissessem que aquele assunto era
mesmo um saco.
Chegou
um ponto em que eu parei de fazer esses trabalhos, porque eles simplesmente
detestavam ter de tirar algo da própria cabeça. E olha que quando comecei a dar
aulas eu respondia com um enorme comentário para cada aluno a todas as questões
do tipo “escreva um pequeno texto com seu ponto de vista sobre...”. Dava um
trabalhão danado.
É
uma pena mesmo, porque dizer o que eu pensava das coisas que eu era obrigado a
“aprender” na escola foi uma chance que eu nunca me deram. Talvez tivessem medo
da resposta. Ha-ha. E eles tinham motivo. Nas atitudes eu fui um aluno bem
tímido, mas se eu precisava escrever a coisa fedia. Qualquer dia eu conto o que
fiz num trabalho de matemática do 3º ano.
Infelizmente,
poucas das pessoas mais extraordinárias que conheço escrevem. Mas esse medo, se
é que se pode afirmar que seja mesmo medo, não se restringe apenas ao ato de
escrever. Criar algo, inventar, brincar com as ideias, não sei por que [ops! Minha chefe chegou. “Esperainda”/ Ela
saiu, continuando...], mas tudo isso paralisa as pessoas. Fica fora
de suas vidas. Elas só consomem arte (e aqui estou exercitando a minha
exigência mínima do que venha a ser considerado expressão artística). E
consomem como fast food.
[Droga ela voltou de novo!/ A partir desse
ponto, o texto foi escrito em casa no Word, como de costume.]
Esse
obstáculo é o resultado de não sermos preparados para transformar a realidade
em que vivemos, apenas para aceita-la e colaborar para que seja sempre a mesma.
Há uma ideia de que criar é algo sublime, um dom estupendo reservado a seres
humanos iluminados que nascem na proporção de um para cada vinte milhões. Mas é
importante notar que os artistas também sentem medo e insegurança. No fim, todo
mundo faz a mesma força quando vai ao banheiro, como diz o povo.
Uma
pessoa que abstrai, que é capaz de sair de vez em quando desta realidade e
passa bons e necessários períodos em outra, geralmente criada por ela mesma,
nunca aprecia uma manifestação artística sem um propósito além do puro e
simples entretenimento. Por mais bacana que seja o filme, por mais empolgante
que seja a música, por mais incrível que tenha sido aquele anime, aquela série
e, tá vai, aquele capítulo da novela, nunca é só diversão. Ela tem que tirar
algo dali. Tem que levar aquilo pro seu mundo e isso o vai ajudando a construir
algo próprio.
Gente
assim entra no meu conceito de “herói infiltrado”, um termo que eu aprendi com
uma mulher chamada Fernanda Meireles e que tem me ajudado a reconhecer esses
seres humanos maravilhosos por aí. Para mim, um herói infiltrado é aquele que
de certo modo obedece às convenções gerais da Sociedade. Mas que está acordado
enquanto a maioria dorme, fazendo moverem-se as engrenagens do pensamento. Ele
está escrevendo, tocando, decorando textos, mexendo com suas tintas e telas,
sem saber por que faz, fazendo porque aquilo é parte de si. De dia se faz
passar por um qualquer, mas se recusa a deixar que o dom repouse apenas nas
mãos dos escolhidos. Ele está arquitetando uma pequena revolução. E isso muda
muito as coisas no mundo.
Se
você é um herói infiltrado, se sua mente não para quando todos dizem que
deveria, por favor, continue. Se você é assim, possivelmente trabalha no
silêncio o tempo todo enquanto sua arte grita. Por enquanto, é assim que deve
ser. Caso encontre outro herói infiltrado por aí, não faça alarde. Apenas o
faça entender que um dia o mundo precisará da matéria da qual você e ela (e) se
alimentam. O mundo precisa de heróis que salvam vidas, como os bombeiros, a
polícia, os médicos e enfermeiros. Mas precisa de heróis da imaginação tanto
quanto.
Heróis
infiltrados de todo o mundo: UNI-VOS!
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A prova do crime...(mas não foi em fevereiro. foi em 05/04/13.rs) |