segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ANJOS...DEMÔNIOS...PERGUNTAS. (Ou Por Que Sou Católico)

"Jeff Buckley, Gregorian Punk" 

Sim, sou católico. Acho que posso dizer que sou praticante, uma vez que participo da Missa com frequência e faço minhas orações todos os dias. A renúncia do Papa, apesar de ser surpreendente para católicos e não-católicos, e deixar a Igreja numa espécie de encruzilhada, dado o momento difícil em que se encontra, na minha vida não surte efeito prático nenhum.
Mas me faz pensar. Como em tudo na vida, sempre passo em revista as minhas reflexões e atitudes e minha fé é objeto dos mais constantes. Sempre me pergunto por que motivo sou católico. Se não for abusar de sua paciência, gostaria de partilhar a longa resposta a qual sempre chego, mas devo advertir que ela inicia de forma inusitada.
Não sou católico pelo que está escrito na Bíblia. Apesar de ela ser um guia de fé para mim, minha “conversa” com ela sempre foi conturbada.
Não sou católico por causa do Papa. Nem deste, nem dos anteriores e muito menos pelos que virão. Nem por causa de padres ou qualquer outro clérigo. Particularmente não nutro especial apreço pela  maior parte deles.
Não sou católico por causa da Sociedade, ou da Globo ou por causa de outras pessoas, embora minha prática católica tenha sido recebida por influência de minha família. Motivos e liberdade não faltaram para que eu desse o fora e mesmo assim continuo aqui.
Não sou católico para contrariar os detratores do catolicismo. Muito menos para agradar os adeptos.
Tive oportunidade de ler sobre outras religiões e conhecer pessoas que professam outro tipo de fé. Algumas maravilhosas e marcantes, outras nem tanto. E quando me pergunto se alcançar o patamar de plenitude espiritual que eles conseguiram é necessário acreditar em algo diferente, a resposta é sempre não. Eu de forma alguma me sinto especial por ser católico. Não mesmo. Ás vezes é duro ver o modo como ela é vista historicamente. E todas as intrigas e desserviços reais e aparentes nos quais a instituição está envolvida. Mas no fim das contas, o meu modo de ser católico não compactua com essa superfície.
A minha opinião é a de que todo mundo está ligado a algo que é maior. No final de todas as perguntas que se encadeiam sempre vai haver um ponto de interrogação, como tirar uma caixa de dentro da outra naqueles desenhos. Mas as caixas são infinitas. Acreditar que no final delas está Deus, ou como quer que você O chame, pode significar parar de perguntar. O que é ruim.
Mas também pode significar perguntar mais e com mais vontade, como um desafio sobre um mistério que nem eu, nem você, nem o Papa ou pastor algum, nem os lamas, nem os rabinos ou qualquer outro terá a resposta. O que é bom.
Todos nós esperamos que Deus esteja lá. E me desculpem os ateus, sei que vocês são muito racionais e que suas mentes realmente não lhes pregariam uma peça tão mesquinha como a de acreditar que existe um Ser Supremo que nos governa e guarda, mas o modo como a maioria defende esse ponto de vista parece mais um grito de socorro do que a sustentação de um argumento. Mas não nego ser suspeito pra falar...
Um dia, um dos meus amigos do Facebook postou uma atualização, talvez com o intuito de fazer uma troça ateísta usando uma célebre frase que, se não me engano, é de Gandhi. Ele disse: “As religiões são como caminhos diferentes que levam para o mesmo lugar: nenhum.” Mas achei genial. Pensei muito a respeito. Está certíssimo. É em Lugar Nenhum que Deus mora. Onde ninguém é maior ou menor e nem detém a verdade absoluta, porque lá ela simplesmente não tem motivo algum para existir.
Todo mundo tem a opção de querer acessar esse Lugar onde Deus se esconde (ou se revela) da forma como bem lhe aprouver. Em muitos casos esse modo é imposto, como católico eu sei que sim. A história da minha religião está aí, a gente aprende até na escola. Eu não falo pelas outras igrejas, pois eu sei qual é a minha. Seria hipocrisia dizer que não olho para outras manifestações religiosas, as mais atuais sem julgamento, mas na minha concepção, minha resignação diante de algo que não me compete faz parte do ato de respeitar o outro.  E em linhas gerais temos liberdade para escolher.
Você pode fazer isso como eu faço ou não. Se você achar que é muito perspicaz, pode espicaçar quem o faz com piadas, embora eu ache sempre que seria bem melhor calar a boca.
Se existe Deus, como eu acredito que existe, é bem provável que Ele não dê a mínima pra isso. Eu não sei como Ele é, mas gosto de acreditar que é maior que a Igreja Católica, do que qualquer outra concepção religiosa e tão grande que nem mesmo a soma das ideias e dogmas que regem todas essas concepções podem abarcá-lo.
O que eu sei é que eu não queimo mulheres e opositores da minha fé. Eu não indexo livros que considero pecaminosos ou nocivos (alguns deles estão na minha estante!). Eu não molesto criancinhas. Eu não idolatro imagens. Não vendo relíquias falsas nem indulgências. Se eu me deparar com quem faz isso, o mínimo que farei será me posicionar contra essas atitudes. E até onde posso enxergar, existem, entre os milhões e milhões de católicos, uns dois ou três mais que também fariam o mesmo. Fico triste que essas pessoas sejam ignoradas.
A única coisa que eu faço é acreditar em Cristo. Daquele jeitinho mesmo que Ele é conhecido por muita gente.
Ser católico é apenas um dos meios de admirar a imensidão disso que hoje parece apenas um delírio, como diria o professor Dawkins. Foi assim que eu cresci.  Há coisas lindas nisso. E é para elas que eu olho. 

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