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"Jeff Buckley, Gregorian Punk" |
Sim,
sou católico. Acho que posso dizer que sou praticante, uma vez que participo da
Missa com frequência e faço minhas orações todos os dias. A renúncia do Papa,
apesar de ser surpreendente para católicos e não-católicos, e deixar a Igreja
numa espécie de encruzilhada, dado o momento difícil em que se encontra, na
minha vida não surte efeito prático nenhum.
Mas
me faz pensar. Como em tudo na vida, sempre passo em revista as minhas
reflexões e atitudes e minha fé é objeto dos mais constantes. Sempre me pergunto
por que motivo sou católico. Se não for abusar de sua paciência, gostaria de
partilhar a longa resposta a qual sempre chego, mas devo advertir que ela
inicia de forma inusitada.
Não
sou católico pelo que está escrito na Bíblia. Apesar de ela ser um guia de fé
para mim, minha “conversa” com ela sempre foi conturbada.
Não
sou católico por causa do Papa. Nem deste, nem dos anteriores e muito menos
pelos que virão. Nem por causa de padres ou qualquer outro clérigo.
Particularmente não nutro especial apreço pela maior parte deles.
Não
sou católico por causa da Sociedade, ou da Globo ou por causa de outras
pessoas, embora minha prática católica tenha sido recebida por influência de
minha família. Motivos e liberdade não faltaram para que eu desse o fora e
mesmo assim continuo aqui.
Não
sou católico para contrariar os detratores do catolicismo. Muito menos para
agradar os adeptos.
Tive
oportunidade de ler sobre outras religiões e conhecer pessoas que professam
outro tipo de fé. Algumas maravilhosas e marcantes, outras nem tanto. E quando
me pergunto se alcançar o patamar de plenitude espiritual que eles conseguiram
é necessário acreditar em algo diferente, a resposta é sempre não. Eu de forma
alguma me sinto especial por ser católico. Não mesmo. Ás vezes é duro ver o
modo como ela é vista historicamente. E todas as intrigas e desserviços reais e
aparentes nos quais a instituição está envolvida. Mas no fim das contas, o meu
modo de ser católico não compactua com essa superfície.
A
minha opinião é a de que todo mundo está ligado a algo que é maior. No final de
todas as perguntas que se encadeiam sempre vai haver um ponto de interrogação,
como tirar uma caixa de dentro da outra naqueles desenhos. Mas as caixas são
infinitas. Acreditar que no final delas está Deus, ou como quer que você O
chame, pode significar parar de perguntar. O que é ruim.
Mas
também pode significar perguntar mais e com mais vontade, como um desafio sobre
um mistério que nem eu, nem você, nem o Papa ou pastor algum, nem os lamas, nem
os rabinos ou qualquer outro terá a resposta. O que é bom.
Todos
nós esperamos que Deus esteja lá. E me desculpem os ateus, sei que vocês são
muito racionais e que suas mentes realmente não lhes pregariam uma peça tão
mesquinha como a de acreditar que existe um Ser Supremo que nos governa e
guarda, mas o modo como a maioria defende esse ponto de vista parece mais um
grito de socorro do que a sustentação de um argumento. Mas não nego ser
suspeito pra falar...
Um
dia, um dos meus amigos do Facebook postou uma atualização, talvez com o
intuito de fazer uma troça ateísta usando uma célebre frase que, se não me
engano, é de Gandhi. Ele disse: “As religiões são como caminhos diferentes que
levam para o mesmo lugar: nenhum.” Mas achei genial. Pensei muito a respeito.
Está certíssimo. É em Lugar Nenhum que Deus mora. Onde ninguém é maior ou menor
e nem detém a verdade absoluta, porque lá ela simplesmente não tem motivo algum
para existir.
Todo
mundo tem a opção de querer acessar esse Lugar onde Deus se esconde (ou se revela)
da forma como bem lhe aprouver. Em muitos casos esse modo é imposto, como
católico eu sei que sim. A história da minha religião está aí, a gente aprende
até na escola. Eu não falo pelas outras igrejas, pois eu sei qual é a minha.
Seria hipocrisia dizer que não olho para outras manifestações religiosas, as
mais atuais sem julgamento, mas na minha concepção, minha resignação diante de
algo que não me compete faz parte do ato de respeitar o outro. E em linhas gerais temos liberdade para
escolher.
Você
pode fazer isso como eu faço ou não. Se você achar que é muito perspicaz, pode
espicaçar quem o faz com piadas, embora eu ache sempre que seria bem melhor
calar a boca.
Se
existe Deus, como eu acredito que existe, é bem provável que Ele não dê a
mínima pra isso. Eu não sei como Ele é, mas gosto de acreditar que é maior que
a Igreja Católica, do que qualquer outra concepção religiosa e tão grande que
nem mesmo a soma das ideias e dogmas que regem todas essas concepções podem
abarcá-lo.
O
que eu sei é que eu não queimo mulheres e opositores da minha fé. Eu não indexo
livros que considero pecaminosos ou nocivos (alguns deles estão na minha
estante!). Eu não molesto criancinhas. Eu não idolatro imagens. Não vendo
relíquias falsas nem indulgências. Se eu me deparar com quem faz isso, o mínimo que farei será me posicionar contra essas atitudes. E até onde posso enxergar, existem, entre os milhões e milhões de católicos, uns dois ou três mais que também fariam o mesmo. Fico triste que essas pessoas sejam
ignoradas.
A
única coisa que eu faço é acreditar em Cristo. Daquele jeitinho mesmo que Ele é conhecido por muita gente.
Ser
católico é apenas um dos meios de admirar a imensidão disso que hoje parece
apenas um delírio, como diria o professor Dawkins. Foi assim que eu cresci. Há coisas lindas nisso. E é para elas que eu
olho.
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