segunda-feira, 4 de março de 2013

NAQUELES DIAS

“Just a perfect day/ You made forget myself/ I thought I was someone else/ Someone good.”- Lou Reed.

Foto de Alex Supertramp (por ele mesmo)


Se a busca não tem obstáculos e a gente pode passar o dia inteiro trabalhando feito um doido enricando um patrão, boa parte da noite estudando para, quem sabe, um dia ser patrão e de quebra ainda tem internet, comida instantânea (e nada saudável) e um programinha na TV (de preferência um que não nos obrigue a pensar muito, por favor...). Ok. Uma hora o sono vem. Amanhã é outro dia, igualzinho a esse, mas “tudo está no lugar certo”, como diria o infalível Radiohead.
A gente passa o tempo todo correndo de um lado pro outro atrás dos nossos sonhos, de realizar algo. Não é nada difícil se perder dentro dessa busca e numa hora ou outra ela perde completamente o sentido. Basta uma coisinha dessas não funcionar. Uma coisinha só e a cabeça explode.
Só que ironicamente, em alguns desses dias em que há uma porca solta na engrenagem, tudo ao redor está uma maravilha. O mundo simplesmente não se importa se você está bem ou mal. Se é um milionário, um doente terminal ou um inatingível monge budista em pleno Nirvana .
O dia está lindo. O sol ilumina tudo como se estivesse inspirado. Ele está apaixonado e quer que todo mundo sinta o mesmo. Ninguém pode ficar triste hoje, então veja as plantas mais verdes, o brilho sobre as construções. Feias ou bonitas. Igrejas, oficinas, bancos de praças. Veja o brilho sobre as pessoas. Feias e bonitas. Modelos, mendigos e vendedores de pipoca. “Everytihing in it´s right place”. Brilhante como nos melhores dias do passado, quando não havia contas para pagar, desilusões amorosas, a eterna desconfiança no futuro ou qualquer tipo de dor física ou sentimental.
Quem poderia ficar mal num dia desses?
Só eu, pensando que minhas buscas incríveis são mais incríveis que os Quatro Elementos. E aí eu fico em dúvida: a vida é sacana comigo por me dar um dia incrível por fora enquanto estou quebrado por dentro? Ou esse é o modo como ela me diz que tudo vai ficar bem se eu simplesmente respirar trabalhar com calma e esperar?
Um dia eu estava atrasado e o motorista do ônibus parado no ponto, não abriu a porta. O cobrador com cara de quem também não entende nada de sóis galhofeiros me viu, mas não me ajudou. Eu sentei na calçada, olhei para tudo o que brilhava ao redor e pensei: “Obrigado, caras. Hoje estou naqueles dias.”
Parece bobagem. E depois de anos passando por dias assim, não consegui aprender muita coisa apenas sobrevivendo a eles. Só consegui aprender a sentar e observar. Às vezes dá certo, às vezes não (infelizmente na maioria das vezes ainda), mas quando dá eu entro na brincadeira do sol.


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