segunda-feira, 1 de julho de 2013

CANTIGA DE AMOR PARA MIA SENHOR

Art by Noel S. Oswald


Hoje ela é maior que tudo, mas cabe em tudo. No passado, no presente e no futuro.
Afugentou damas de névoa e trouxe consigo um chão sobre o qual eu deveria pisar. Dividiu certos mundos e destruiu outros. Descobriu salas de segredos, forçou outras a surgirem nos limbos etéreos de dimensões que ela não enxerga.
Por ela eu calei uma voz afetada. Por causa dela eu criei um idioma para mim, um para os humanos e outro para os anjos.
Senhora das coisas que podem ser tocadas. Senhora do equilíbrio. Senhora das perguntas e das batalhas. Do que sou feito, afinal? Do aço que o mundo exige ou da bruma que meu pensamento cultivou?
Não desisto mais, embora as rotas de fuga estejam ainda abertas. Para onde eu tiver de ir, deverei ter costas para carregar as nossas coisas e todo sonho precisa ter uma porta capaz de deixar que ela passe. Ainda que não passe, ainda que não me leia, ainda que só use sua línguagem enquanto as palavras mais bonitas estejam escritas no idioma dos anjos. E que do lado de fora da fortaleza as damas banidas lancem os olhares e beijos e me chamem como sereias das nuvens. Só ela existe.
Um dia ela foi inalcançável. Há provas disso. Quando vejo essas provas, sei do que posso.
E se me assoma sofrimento e dúvida, fremosa esposa e mia senhor, respiro e volto às promessas que fiz. Se foi com palavras que eu lhe trouxe, com palavras lhe hei de levar.

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